segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A reforma ortográfica, ou será "ortografica"?

Descobri que não sei mais escrever em português. Com todas as mudanças que implementaram, não sei mais acentuar nem escrever.
Como já tenho uma certa idade, e a certa idade é responsável por tantos mecanismos automáticos aprendidos ao longo do tempo, a coisa ainda fica mais dramática. Fico imaginando quando meus avós tiveram que tirar os pês (com acento?) de captura, óptico, excepção e os cês de acto ou acção... coisa antiga, mas que os portugueses vão ter que aprender agora. Na minha infância (1971) aconteceu uma outra mudança ortográfica. Foi aquela que, para seguir o mundo da moda, aboliu o chapéu da palavra ele. Antes todo mundo usava chapéu, agora, no mundo pós-moderno era um adereço cafona, e o ele ficou sem o circunflexo. Sozinho também perdeu o acento agudo, antecipando os tempos, mas confesso que por muitos anos ainda me batia a dúvida se deveria ou não colocá-lo. Mas a gente quando está aprendendo acaba assimilando as coisas de forma mais fisiológica.
Algumas coisas já são descontadas, tipo o trema nas linguiças e liquidificadores. Penso que 99,9% da população já as havia abolido faz tempo. H em úmido e erva, que não se usa por estas plagas faz um milênio linguistico (sem trema e sem temor). E os acentos nas formas verbais dos verbos apaziguar, arguir e averiguar também vão ficar apaziguados e tranquilos.
Mas o acentinho da jiboia...ah, alguém vai dizer que jiboia é cobra e cobra não tem mesmo acento (malandramente, desconsiderando os dois "ss" no lugar do "c") e em todos os ditongos abertos "ei" e "oi".
Ideia, ficou sem, heroi também. Sejamos francos, ambos os substantivos escarceiam, mas confesso minha estranheza em escrevê-los assim. Parecem nús.
A feiura ficou mais feia, talvez seja o botox que lhe tirou o vinco. Mas com ela todas as paroxítonas com "i" e "u" tônicos precedidos de ditongo vão ficar lisinhas e sem o pé de galinha que as decorava.
Ninguém vai mais precisar acentuar nada para diferenciar o que é verbo, substantivo ou preposição de todo o resto. Pelo (verbo) e pelo (subst.) e pelo (prep.), para (verbo) e para (prep.), peras, polos e etc... Embora uma boa parte da confusão seja tão arcaica quanto eu, e ninguém mais pare para nada.
Não se separa mais nada com hífen (que termina assim, com n) quando o segundo elemento começa com s ou r, basta dobrar as letras e assim fica correto escrever ultrassom (era hora) como todos os médicos que conheço. Vale para anti, infra, ultra, mega,... Mas hiper, inter e super mantêm tudinho "como era antes no quartel d'Abrantes" e assim hiperreação está errado e deveria ser grafado hiper-reação. Cai também quando o primeiro elemento termina em vogal diferente da inicial do segundo, coisa como autoestrada, aeroespacial, antiespasmódico.
Mas o que me arrasou foi mesmo o circunflexo, mais uma vez. Aquele simpático chapeuzinho chinês, tão lindinho que se foi para sempre de leem, veem, creem e deem. Tudo bem que fica mais internacional, parece até outra língua, dá um toque sem fronteiras. Tudo bem que são verbos pouco conjugados por estas plagas, com excessão para algumas aplicações do verbo crer e dar, que em certas ocasiões são até excessivamente utilizados de forma errônea e para estranhos fins.`As vezes me dá até enjoo (que ficou sem acento, tais como voo e os hiatos "oo", que também apelaram para seu lado mais global).
Em compensação entrou o K, o Y e o W.
Não acrescentou nada. O Detran já usava estas letras para compor as chapas...

2 comentários:

thais disse...

hahaha, sandra AMEI.
amei, amei amei.

beijo!

Anônimo disse...

Verdadeeeee... ótimo texto San...
Nossa como eu estou perdida!
Vc tá é bem amiga... eu sim me fulasquei (bom pelo menos inventando não tem como escrever errado! hahaha).
bjoKAS
hehe