quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O ano acabou, viva o ano novo!

Vim aqui agradecer. A todos vocês. Àquelas pessoas que estiveram perto, mesmo estando do outro lado do mundo, aos amigos velhos e novos, mas sempre sem rugas e sem rusgas, aos seres amados e aos odiados, pois nos dão energia e vontade de ir mais além.
Vim agradecer a vocês que me leram, aos que debateram, aos que apoiaram, aos que duvidaram, pois o conhecimento e a ciência são feitos de certezas relativas e estão abertos às teses novas e a quem queira experimentá-las com seriedade.
O ano acaba, agoniza.
O ano morre. Viva o novo ano. Que ele seja bom, que ele seja inteiro, para todos nós.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

E você?

Eu adoro o Natal. Talvez seja a minha festa preferida.
Talvez porque inspira bons sentimentos, talvez por conta das luzes, talvez pelo cheiro da chuva, por estar junto a quem se quer bem, nem sei,... Talvez seja só pelas lembranças boas. E ser bom nesta época é aceitável e até desejável.
Muitas pessoas detestam esta época pelos mesmos motivos.
Muitas estão sozinhas e esta época faz sentir a solidão com um peso ainda maior.
Só que a solidão não é uma questão definitiva. Basta abrir-se um pouco. As pessoas estão por aí, muitas só esperando uma companhia.
Eu passei muitos Natais de plantão, nos hospitais da vida. Não era um problema. Ali estavam tantas pessoas desejosas de um momentinho de atenção.
Está provado que o cérebro generoso dá grandes satisfações. É bom ser bom. Dá prazer.
Então aproveite este momento. Experimente sair do casulo. Ninguém vai rir de você se você levar um panetone ou um brinquedinho para o menino do sinal, nem trocar duas palavrinhas com ele. Ah, não esqueça de perguntar seu nome, sua idade. Trate-o por gente. Porque talvez ele seja tão solitário quanto você. Você vai se surpreender. E descobrir o prazer do sorriso no rosto alheio.
Dê um "Feliz Natal" para o porteiro com quem você mal fala.
Não tenha medo de ser piegas. Agora somos todos piegas, e você não vai "queimar o seu filme".
Vá a um asilo só para conversar. Não há maior presente que um ouvido que escute as suas histórias sem pressa.
E se não te der vontade de nada disso, fique em casa simplesmente. Lembre das pessoas que você amou, das que ama, dos Natais felizes vividos (ou dos que você gostaria que tivessem sido). Não tenha vergonha de chorar. As pessoas vivem para sempre dentro de você.
Talvez, se der vontade, procure o telefone de um amigo antigo, em alguma velha agenda. Ligue, custa pouco. Vai ser como uma surpresa, um presente para os dois.
E faça as pazes com quem você brigou e nem mesmo lembra o por que. Peça desculpas (mesmo sem ter culpa). Custa tão pouco e no fim você vai economizar anos de amargura inútil e não há melhor período no ano para fazer isso. Invista em afeto.
O Natal pode ser muito bom.
Eu adoro o Natal por tudo isso. E você?

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

"M'illumino d'immenso"


"Mattina

M'illumino d'immenso

G. Ungaretti, 1917"

Giuseppe Ungaretti (que por sinal foi professor na USP) escreveu o poema "Mattina" em 1917. Era a Primeira Guerra Mundial, a Guerra das trincheiras e um massacre como nunca tinha sido visto antes.
Ele estava lá, e via amanhecer, e em uma só frase resumiu a maravilha de descobrir-se vivo e parte da Natureza que o cercava. A luz e o calor da nova manhã que chegava e prometia um novo dia, uma nova chance. Ao mesmo tempo, a percepção da grandeza do Universo, do ritmo dos planetas e estrelas e a consciência de nossa pequenês e fragilidade diante de algo muito maior que nós mesmos, onde somos nada e ao mesmo tempo parte de tudo.
Trouxe este poema para vocês porque gosto muito dele.
Na sua simplicidade e na enormidade de seu significado.
Para todos vocês, meus amigos, que estiveram presentes aqui, comigo, ao longo deste ano tão difícil, desejo que vocês possam iluminar-se de imenso. Que as suas vidas se encham desta percepção de que somos todos um, fazemos parte deste todo, e que apesar das aparências não estamos sozinhos.
Que vocês festejem a Vida e o seu renascer com as suas famílias e com as pessoas que vocês amam. Que esta fração de imenso que chamamos tempo, possa ser cheia de luz.

Feliz tudo para vocês!

(Foto: Bea, 3 anos, por S. Goraieb, todos os direitos reservados.)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A omissão e a vergonha.

Acabo de saber que a conferência sobre o clima de Copenhagen deu em nada. Eu não tinha a menor dúvida que isto iria acontecer.
Os interesses políticos ainda não colimam com a necessidade de se fazer algo de realmente sério sobre o problema.
Mesmo porque nenhum político no planeta iria assumir o ônus de frear o que se chama "desenvolvimento" em prol da preservação de coisa alguma, exceto do poder deles próprios.
É evidente que os modelos econômicos atualmente aplicados no mundo dito desenvolvido estão anos luz do modelo sustentável. Queria ver quem teria a coragem de dizer: vamos frear o consumo, vamos tirar dinheiro do mercado, muita gente vai falir, vai passar fome, até as coisas entrarem num novo patamar de desenvolvimento, em um novo modelo econômico, mais compatível talvez com aquele de nossas avós, quando se comprava uma roupa para durar 10 anos ou até que ela não tivesse mais como ser remendada, ou um sapato após trocar as solas repetidas vezes até que furasse e nada se jogava fora na cozinha.
Queria ver quem iria dar a cara a tapa dizendo que seria melhor ter menos gente no mundo, como fez o príncipe consorte inglês e foi execrado como se estivesse falando uma enorme besteira. Queria saber quem iria dizer que a sua aposentadoria, a previdência estatal, iria acabar, pois não haveriam novas gerações de trabalhadores para manter a pirâmide e ela iria falir.
Queria ver quem teria a coragem de criar um imposto a mais (salgado, dadas as cifras) para que o planeta sobrevivesse, a espécie humana sobrevivesse.
Não, nenhum deles faria isso. Nenhum queimaria o próprio filme em prol do bem geral não apenas da nação, mas da inteira vida no planeta.
Portanto, nada de novo do front. Tudo igual. Economia e planeta aquecidos e todos contentes de empurrar com a barriga.
Como já disse Luis XIV: -"Depois de mim, o dilúvio"... e olhem que nem tinha começado a revolução industrial...
Está na hora de cada cidadão com um mínimo de senso crítico começar a pensar em soluções concretas, pois se depender dos "líderes" do mundo, morreremos "afogados", uma vez que ainda não se percebeu que o mundo não se divide em ricos e pobres, mas é um só e estamos todos juntos nele.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Os votos

Este poema circulou como obra de Victor Hugo, mas na verdade é de um jornalista, poeta e dramaturgo bem brasileiro, Sergio Jochymann. Quando eu era menina, via um programa na TV Tupi com a Eva Wilma como Penélope, também fruto de sua pena. Coisas de infância, mas inesquecíveis, em especial na casa da minha avó.
Desde que recebi este texto, alguns anos atrás, me senti perfeitamente representada nas suas palavras. Acho que é o que poderia de fato desejar a todos vocês, que tiveram a paciência de seguirem minhas postagens. Peço desculpas por minhas rabugices, e pelos meus últimos silêncios. Tem sido um período de turbulências.
Como já chegamos no final do ano, achei que seria bom repropor o texto. Gostaria de poder ter contatado o autor diretamente para poder solicitar sua autorização. Inclusive peço que, se alguém conhecer como seria possível contatá-lo, me escreva.
Com a máxima transparência e respeito pelo autor do texto, reproduzo abaixo este belíssimo augúrio.

"Os Votos

“Pois desejo primeiro que você ame e que amando, seja também amado.

E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo não guarde mágoa.

Desejo depois que não seja só, mas que se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos e que mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis.

E que em pelo menos um deles você possa confiar e que confiando, não duvide de sua confiança.

E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos nem poucos, mas na medida exata para que algumas vezes você interprele a respeito de suas próprias certezas.

E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo para que você não se sinta demasiadamente seguro.

Desejo depois que você seja útil, não insubstituívelmente útil mas razoavelmente útil.

E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante, não com que os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com aqueles que erram muito e irremediavelmente.

E que essa tolerância nem se transforme em aplauso nem em permissividade, para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.

Desejo que você sendo jovem não amadureça depressa demais, e que sendo maduro não insista em rejuvenescer, e que sendo velho não se dedique a desesperar.

Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram dentro de nós.

Desejo por sinal que você seja triste, não o ano todo, nem um mês e muito menos uma semana, mas um dia.

Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo, talvez agora mesmo, mas se for impossível, amanhã de manhã, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes.

E que estão estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles.

E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência inevitável.

Desejo ainda que você afague um gato, que alimente um cão e ouça pelo menos um João-de-barro erguer triunfante seu canto matinal.

Porque assim você se sentirá bom por nada.

Desejo também que você plante uma semente, por mais ridículo que seja, e acompanhe seu crescimento dia a dia, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano você ponha uma porção dele na sua frente e diga: "Isto é meu".

Só para que fique claro quem é o dono de quem.

Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal, não obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.

Mas que essa frugalidade não impeça você de abusar quando o abuso se impuser.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você. Mas que se morrer, você possa chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.

Desejo por fim que, sendo mulher, você tenha um bom homem e que sendo homem tenha uma boa mulher.

E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte, mais uma vez e novamente de agora até o próximo ano acabar.

E que quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda tenham amor para recomeçar.

E se isso só acontecer, não tenho mais nada para desejar”

Poema de Sérgio Jockymann, jornalista, romancista, poeta e dramaturgo brasileiro.



Tomara que eu não possa desejar mais nada a nenhum de vocês.