terça-feira, 31 de março de 2009

Peixe com o quê?

Não é pirão, nem é farofa. Nem batata, mandioca ou arroz. Não é disso que falamos hoje.
São dos resíduos de tantos remédios (fármacos) e outras substâncias de produtos de cuidados pessoais que não são removidos nas estações de tratamento de esgotos e que retornam às fontes de captação de água.
Na Environmental Toxicology and Chemistry (on line) deste mês, saiu um artigo detalhando as principais substâncias destes dois grupos em peixes de várias regiões dos EUA.
Leve-se em consideração que o tratamento de esgotos no Brasil é ainda (infelizmente) muito incipiente (e insipiente também), com a maioria dos municípios despejando nos nossos rios esgotos sem nenhum tratamento.
Outra premissa interessante é o despejo de metais pesados de garimpos clandestinos em rios aparentemente insuspeitáveis da Amazônia ampliada. Sem falar nos peixes marinhos de grande porte, como o atum, contaminados por mercúrio.
Assim o leitor poderá ter uma vaga idéia do que ele ingere junto com o belíssimo filé de peixe "alla mugnaia".
Vamos então ao artigo: "Occurrence of pharmaceuticals and personal care products (PPCPs) in fish: Results of a national pilot study in the U.S.".
Os autores introduzem dizendo que muitas substâncias químicas já foram assinaladas em diversas fontes biológicas, inclusive tecidos de peixes, mas que não havia sido nunca realizado um estudo abrangente incluindo várias regiões geográficas. Um estudo piloto incluindo peixes provenientes de cinco diferentes efluentes que recebem descarga direta de tratamentos de esgoto em Chicago, Dallas, Orlando, Phoenix e West Chester (Pensilvânia) foi então iniciado. Os controles vieram do rio Gila, no Novo México, por serem espécimens expostas minimamente ao impacto humano.
As amostras foram tratadas através de Espectrofotometria de massa e Cromatografia líquida de alta performance (HPLC-MS/MS). Observou-se a presença dos seguintes fármacos: norfluoxetina, sertralina (ambos antidepressivos), difenidramina (anti-histamínico H1), diltiazem (benzotiazepina, bloq. canal de cálcio, antihipertensivo), carbamazepina (antiepilético, antipsicótico) em nanogramas/g em filés. A presença adicional de fluoxetina e gemfibrozil foi confirmada em tecidos hepáticos. A Sertralina foi detectada em concentrações de 19 e 545 nos filés e nos fígados, respectivamente.
A presença de ingredientes de produtos de higiene pessoal nas amostras revelou nos filés a presença de galaxolide e tonalide (notas baixas em perfumes, musks sintéticos) em concentrações máximas de 2100 e 290 ng/g respectivamente e traços de triclosan (conservante e antibacteriano).
Em geral, as drogas foram detectadas em maior concentração nos fígados que nos filés e os autores excluem que o maior conteúdo graxo do fígado seja a causa desta discrepância, pois não houve correlações positivas entre as concentrações farmacêuticas acumuladas e o conteúdo lipídico de cada tipo de amostra analisada. No entanto os resíduos de produtos de higiene pessoal, galaxolide e tonalide fopram significativamente relacionadas ao conteúdo lipídico das amostras de tecido analisadas. Os autores concluem que os achados são dependentes do tipo de tratamento empregado nas estações de esgoto.

Ter a noção de que aquilo que usamos não se restringe aos efeitos colaterais em nós mas que abrangem uma cadeia inteira de eventos após, é importantíssimo. O remédio que tomamos para uma patologia qualquer é excretado total ou parcialmente metabolizado, mas seus efeitos podem ainda ser efetivos em outras espécies no ambiente.
O creminho e o shampoo, o sabonete e o perfume que usamos em nossas peles, vem absorvidos e metabolizados e o restante é lavado e carreado para os sistemas de esgoto. E raramente são eliminados pelo tratamento aplicado nas estações.
Cada ação humana implica em uma cadeia de eventos anterior e posterior a ela.
Pensem nisso.

Para saber mais:
Ramirez AJ, Brain RA, Usenko S, Mottaleb MA, O'Donnell JG, Stahl LL, Wathen JB, Snyder BD, Pitt JL, Perez-Hurtado P, Dobbins LL, Brooks BW, Chambliss CK.
Occurrence of pharmaceuticals and personal care products (PPCPs) in fish: Results of a national pilot study in the U.S.
Environ Toxicol Chem. 2009 Mar 25:1.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Não é igual.

Todas as vezes que vejo escolas em situação miserável me dou conta de que a verdadeira causa da disparidade social não está em nenhum outro lugar.
Ontem tive a oportunidade de ver na TV uma vergonha nacional que alguns bravos heróis e heroínas insistem em chamar de escola e se esforçam por mandar para frente. É gente simples, perdida no interiorzão deste pais. Alguns analfabetos, outros menos, alguns professores com tanta boa vontade e tantas crianças para os quais escola significa comida.
Tem a ver sim escola e comida. Escola é a comida da alma de quem pergunta. Mas aquelas choupanas sem recursos, são comida mesmo, dessas que a gente engole para encher a pança e sobreviver.
Pensei naquelas crianças, nas suas imensas dificuldades, nas suas imensas diferenças. Pensei nas crianças das mesmas escolas, mesmo as ruins daqui. Pensei na minha filha e no esforço em garantir para ela um ensino de qualidade. Elas são crianças, todas elas. Para a lei, cidadãos em igualdade. Mas elas não são iguais. Elas não terão as mesmas chances. Nunca. Elas já foram marcadas para serem diferentes.
Não que eu acredite que as pessoas sejam iguais. Não são. Cada um é um, com seus talentos e suas limitações. Cada um tem interesses, vontades, capacidades diferentes e isso não é um mal. Eu, por exemplo não seria nunca uma contadora feliz. E por sua vez tenho certeza que muitos contadores detestariam o que eu faço com prazer.
Eu acredito que as pessoas deveriam ter oportunidades. E que se não as quisessem, por um motivo ou por outro, seria uma escolha pessoal, não uma imposição.
No caso daquelas crianças em Goiás, assim como foi no Maranhão da outra vez, não é uma escolha delas. Elas não podem optar.
Aí me ocorre os imensos desperdícios, as imensas improbidades administrativas, as imensas bobagens que nos vendem em nome da política. Tanta demagogia, tantos engodos. E que pagamos egregiamente com uma infinidade de impostos inúteis.
A verdade é que se queremos justiça social neste país devemos acabar com a fraude das pseudoescolas. Temos que fazê-las de verdade, dar educação paritária, boa, séria.
Educação que ensine a pensar, a criticar. Não só escrever seu nome.
Professor tem que ser professor, não super-herói.
Mas talvez não convenha. Talvez dar dignidade de cidadãos verdadeiros não seja proveitoso para os demagogos. Vão acabar os votos que não questionam, de curral.
Não que as bolsas isso ou aquilo não sejam úteis para uma maré de gente miserável. Dar comida, enche a pança do agora. Mas amanhã elas ainda vão estar na mesma fila, esperando pelos mesmos vales.
O que vai mudar a vida desta gente é oportunidade. E oportunidade significa preparo, significa informação, significa educação.
E é certamente a única coisa que vai fazer deste pais, uma nação de verdade.
Confesso que ontem vendo aquelas crianças, eu chorei.

quinta-feira, 26 de março de 2009

USP seleciona adolescentes obesos para pesquisa

DIVULGAÇÃO: Recebi da An Isabel Parguay e repasso para divulgação

USP seleciona adolescentes obesos para pesquisa


O Projeto Jovem Saudável, coordenado pela Profa. Dra. Nágila Damasceno, do Departamento de Nutrição (FSP-USP) está selecionando adolescentes de ambos os sexos, com idade de 10-19 anos, que tenham sobrepeso ou obesidade. O estudo tem como objetivo avaliar o efeito da dieta sobre o perfil lipídico, oxidativo e inflamatório de adolescentes e conta com o apoio financeiro da FAPESP e do CNPq.

Nesse sentido, serão coletadas informações sobre o consumo alimentar, avaliação antropométrica e uma amostra de sangue a partir da qual mais de 30 biomarcadores serão analisados.

Todos os resultados serão disponibilizados aos participantes no final da pesquisa.

Aos adolescentes que participarem de todas as etapas da pesquisa será oferecida uma orientação nutricional baseada nos resultados obtidos

Se você conhecer alguém com esse perfil e que esteja interessado em participar, peça para entrar em contato com a coordenação do projeto.

Data limite para novas inscrições: 20/4/2009

Maiores informações: Fones: (11) 3061 7865 e 30617771 e pelo e-mail: jovemsaudavel@gmail.com

Cem anos de ratos

Hoje na UOL um artigo de Javier Sampedro transcrito do "El País" que merece a leitura.
Deixo o link abaixo (ou cliquem sobre o título do post):

http://www.elpais.com/articulo/sociedad/mil/usos/hombre/raton/elpepisoc/20090322elpepisoc_1/Tes

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2009/03/26/ult581u3129.jhtm

Besos!

terça-feira, 24 de março de 2009

Sangue para todos

Não sei quantos de vocês já foram doadores ou receberam sangue em situações emergênciais.
Tenho um irmão que se tornou portador de Hepatite C por conta de uma, nos primeiros anos 80.
Na UTI e nas cirurgias de grande porte, por muitos anos foi uma luta e um problema. Em certas épocas do ano o Hemocentro entra em "tilt", por tantas solicitações e uma crônica carência.
Mas agora, como diria o humorista, "os problemas acabaram". Uma notícia ontem no jornal inglês "The Independent" trouxe uma novidade que vai fazer corar de alegria muitos médicos traumatologistas, emergencistas e intensivistas, sem falar nos hematologistas: vem aí o sangue humano sintetizado a partir de células estaminais de embriões descartados.
Sangue humano, O negativo, universal, sem rejeição, sem contaminantes, em quantidades ilimitadas.
Parece um sonho ou episódio do ER onde se consumiam 8 bolsas para cada paciente em cada episódio.
O projeto envolve o NHS Blood and Transplant, o Scottish National Blood Transfusion Service e o Wellcome Trust, em um investimento multimilionário e liderado pelo Prof. arc Turner, da Universidade de Edinburgo e diretor do Scottish National Blood Transfusion Service.
A primeira transfusão se dará em 3 anos, segundo os pesquisadores.
Quem viver, verá.
Até lá, colaborem com os Hemocentros. Com certeza vai fazer diferença para alguém.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Citrus paradisi: um coquetel tóxico.

Grapefruit, toranja, pomelo.
Aqui se vê pouco. Suco, então, é raro.
Mas é um dos suco de cítricos mais consumido no mundo, com cerca 14% da população nos EUA que o ingerem pelo menos um vez por semana. Na Italia também se bebe muito. Meu marido adora, tanto o suco como o fruto "in natura". É refrescante, um tanto amargo, adstringente.
Mas atrás da inocente fruta e do seu suco, existe um problema: eles inibem a isoenzima CYP3A4 do citocromo P450, envolvida no metabolismo de cerca 60% dos fármacos. Isto pode ocasionar uma alteração nos perfis de segurança e toxicidade destas drogas.
Foi relatado o caso de grave intoxicação por Verapamil associado à ingestão de suco da fruta.
Esta isoenzima é fundamental na oxidação de xenobióticos e a sua inibição aumenta a biodisponibilidade da substância podendo levar à intoxicação mesmo em baixas doses.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Rapidinha...

A crise vai diminuir em 2% as emissões totais de CO² no planeta.
Isto por ter levado a uma queda na emissão dos países como a China e Índia.
Com a recuperação econômica e a retomada da produção industrial as emissões subirão novamente. Nada para se festejar.
De qualquer jeito é estar entre a cruz e a caldeirinha, a miséria de hoje contra a miséria de amanhã.

Pensamento do dia: de quanto você abriria mão em seu salário em prol da solução climática mundial? O que você estaria disposto a sacrificar?
Reflitam bem e sejam honestos com vocês mesmos.

terça-feira, 17 de março de 2009

Aviso

Durante esta semana estaremos fazendo mudança.
Peço desculpas pela irregularidade nas postagens.
Assim que as coisas estiverem mais em ordem, volto a escrever com maior frequência.
Este é um aviso em respeito as pessoas com seguem este blog com tanto carinho.
Obrigada por estarem aí.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Até tu PET?

De Frankfurt, do Departamento de Ecotoxicologia Aquática da Johan Wolfgang Goethe University, nos chega um artigo preocupante.
Os pesquisadores senior, Dr.s Martin Wagner e Prof. Dr. Jörg Oehlmann publicaram (ainda somente on-line) na Environmental Science and Pollution Research deste mês um trabalho realizado no departamento cujo objetivo era avaliar o potencial geral de contaminação por xenoestrogenos nas águas minerais engarrafadas.
Os autores consideraram que a dieta é uma rota importante de exposição a agentes interferentes hormonais e que até então as pesquisas eram direcionadas a um agente específico, como por exemplo os ftalatos presentes nos alimentos e nos fluidos corporais (urina e sangue). Assim se perdiam os efeitos combinados dos xerormônios.
Eles então analisaram águas minerais comerciais em um modelo in vitro para receptores humanos alfa e encontraram contaminação em 60% de todas as amostras com uma atividade máxima de 75.2 ng/l de 17 betaestradiol, hormônio sexual natural.
Além disto, os pesquisadores usaram como modelo in vivo o molusco Potamopyrgus antipodaram, expondo a criação a água de garrafas de vidro e de garrafas PET (polietileno tereftalato) e observaram um aumento na reprodução dos moluscos nas garrafas PET. Esta seria a primeira evidência que a perda de substâncias do plástico das embalagens pode agir como estrógenos in vivo neste modelo sentinela.
Os autores alertam ainda que uma grande quantidade de alimentos poderiam estar contaminados após serem embalados em plásticos.

O artigo no mínimo nos faz refletir sobre a necessidade de estudos aprofundados dos materiais de embalagem atualmente em uso comercial.

Para saber mais:

Wagner M, Oehlmann J.
Endocrine disruptors in bottled mineral water: total estrogenic burden and migration from plastic bottles.
Environ Sci Pollut Res Int. 2009 Mar 10
http://www.bio.uni-frankfurt.de/ee/ecotox/staff/index_joerg.html

terça-feira, 10 de março de 2009

Era uma vez no pais das Maravilhas ou histórias para boi dormir...


Vou lhes contar uma história (ou será que é uma estória?) da multiplicação do Linalol a partir do Pau Rosa (Aniba roseodora Ducke).
Era uma vez, no pais das Maravilhas, em uma floresta cerrada, uma planta chamada Pau Rosa. Dela se extraía um precioso óleo, usado em perfumes para reis e rainhas, de Bollywood a Hollywood, de França, Europa e Bahia. Coisa importante, para gente que conta.
Então naquela floresta, a maior e a mais importante do reino, o tal Pau Rosa começou a ser cortado e cortado, até que percebeu-se que ele estava se esgotando. Quase não havia mais Pau Rosa no intorno da cidade e do porto, e então começou-se a cortar mais longe, mais longe, até que quase não havia mais Pau Rosa em lugar nenhum.
O rei do pais das Maravilhas, em um ímpeto de bom senso, resolveu proibir o uso do Pau Rosa, impedindo seu uso e seu corte. E assim baixou-se uma lei e no país das Maravilhas não seria mais permitido cortar Pau Rosa de jeito nenhum desde o ano 91.
Mas os reis dos outros reinos, alguns nobres ali também, não queriam abrir mão da essência preferida. O substituto sintético feito pelos alquimistas da corte não era a mesma coisa e só contentaram a plebe. Bom mesmo era o original, o verdadeiro componente do óleo genuíno, uma coisa chamada Linalol natural.
E foi aí que aconteceu o milagre da multiplicação. Por uma curiosa via paralela, no Ministério de Proteção dos Bosques e Florestas Reais existia uma espécie de autorização para o uso das áreas protegidas, onde havia uma espécie de compromisso entre quem usava o terreno, comprometendo-se a manter uma parte dele intacto.
E assim, de forma autorizada, começou-se a cortar de novo o Pau Rosa, aqueles poucos que existiam.
A multiplicação acontecia pois alguns daqueles que moravam por ali cortavam também Pau Rosa em áreas não autorizadas e faziam passar por produto da área autorizada.
E assim as quantidades de óleo de Pau Rosa continuaram suprindo o mercado. Apesar da proibição do rei. Apesar do bom-senso.
E assim é que acabou-se com o Pau Rosa.
Uma linda árvore da família das Lauráceas.

Mas outros bravos magos descobriram que existem outras fontes renováveis de Linalol, o manjericão por exemplo. Fácil de plantar, fácil de colher, ciclo de 90 a 100 dias, contra os anos de uma árvore de Pau Rosa suficientemente grande para poder ser considerada produtiva. Ou mesmo através da extração do óleo obtido das folhas da árvore ao invés da madeira.
Linalol natural de alta qualidade e pureza.
Mas como Cassandra, estes nem sequer foram ouvidos...mas esta é uma outra história.
Fim.

Para saber mais acesse:
http://www.inova.unicamp.br/inventabrasil/paurosa.htm

sábado, 7 de março de 2009

Amanhã


Amanhã se festeja o dia da mulher. Abaixo o dia da mulher! Detesto esta data.
Acho que mereço mais que um dia no ano. Acho que mereço o ano inteiro. Assim como tantas outras mulheres que conheço. Assim como tantas outras mulheres que nunca encontrei. Nunca gostei destes dias que festejam algo que você não pode mudar. Seu sexo, sua "raça",... Não significam nada. Não acrescentam nada. Alguns dizem, serve para que as pessoas percebam que existe o problema. Ou seja, nos outros 364 dias do ano ele passa desapercebido? Um dia basta para "fazer lembrar" as diferentes condições humanas e sanar tudo com a "lembrança"?
Consciência se faz todos os dias, não uma vez por ano.
Meu desejo é que um dia não seja preciso um dia no ano para lembrar que as mulheres existem, que têm valor, têm direitos, têm voz, têm problemas.
Gostaria que o dia das mulheres fosse o ano todo, quando fosse preciso, sempre que fosse preciso.
Não, eu também não quero dia da mulher qualquer, quero o dia da Mulher que faz, que vive, que dá vida, que batalha, que tem valor.
Não sou igual a um homem. Não quero ser igual a um homem. Se fosse, não seria mulher. Sou diferente nas minhas necessidades e na minha forma de ser, mas não menos merecedora de respeito.
Respeito não tem sexo, nem data, nem Dia do Respeito. Que pena!
Não quero um dia genérico para festejar uma contingência genética.
Quero reconhecimento de valor. E para isso, não é necessário um dia fixo no calendário e nem pertencer a um sexo ou etnia.
Feliz todos os dias às mulheres que valem! Porque vocês valem, vocês merecem!


Há 7 anos atrás minha filha saia da UTI Pediátrica.
Para mim significou o verdadeiro início da maternidade, uma nova forma de ver o mundo.
Agradeço a todos que cuidaram dela no Fatebenefratelli de Roma. Apesar de toda a angústia e sofrimento daqueles dias. Apesar das incertezas.
Foi naquela maternidade que conheci o significado do amor incondicional.

(Grazie a tutto il personale della Rianimazione Neonatale dell'Ospedale Fatebenefratelli dell'Isola Tiberina.)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Preservantes em cosméticos, um mal necessário.

Cosméticos com uma grande percentual de água apresentam riscos de serem contaminados por micro-organismos que podem alterar a composição do produto ou se tornar um risco para a saúde do consumidor.
Os micro-organismos patogênicos mais frequentes envolvidos na contaminação de cosméticos são o Staphylococus aureus e a Pseudomonas aeruginosa.
No sentido de evitar a contaminação de cosméticos, os fabricantes adicionam preservantes (antibacterianos e antifúngicos) aos seus produtos.
Nos diversos mercados do mundo, tanto nos EUA, na União Européia como no Japão e nos diversos países, inclusive o Brasil, existe uma legislação específica que regula o uso destes ingredientes.
Existem alguns preservantes disponíveis no mercado que predominam em termos de frequência: parabenos (toda a família, singularmente ou em associação), formaldeído, liberadores de formaldeído e metilclorotiazolinona/metilisotiazolinona. Nenhum deles isento de restrições ou efeitos indesejados.
As concentrações destes preservantes varia muito, mesmo dentro de uma mesma tipologia de produto o que indica que é possível que em muitos casos as dosagens atualmente empregadas sejam superiores as reais necessidades para obtenção do efeito desejado.
A alergia aos preservantes é uma das principais causas de dermatite de contato causada por cosméticos. Como o desenvolvimento e a manifestação da dermatite de contato é dose dependente, o excesso de preservantes em uma formulação pode potencialmente levar ao aumento da incidência destes episódios.
Poucos estudos foram realizados para efetivar a eficiência antimicrobiana dos preservantes atualmente no mercado, mas os resultados indicam que uma eficiente atividade antimicrobiana poderia ser obtida com doses bem abaixo do máximo consentido ou sugerido para cada um dos preservantes citados.*

De fato, na nossa experiência, reduzimos as doses de preservantes a níveis muito abaixo dos convencionais e obtivemos excelente eficácia e segurança, com uma margem de shelf life de 2 anos garantida para produtos muito sensíveis.
Outros problemas relacionados aos conservantes são sua atividade como interferentes hormonais, sua toxicidade e carcinogenicidade. Tais características são variáveis de acordo com a substância escolhida, mas nenhum preservante é completamente isento de efeitos indesejados.

Para saber mais:
*Lundov MD, Moesby L, Zachariae C, Johansen JD.
Contamination versus preservation of cosmetics: a review on legislation, usage, infections, and contact allergy.
Contact Dermatitis. 2009 Feb;60(2):70-8.
Department of Dermatology, National Allergy Research Centre, Gentofte University Hospital, Gentofte, Denmark.

Moraes R,
Boas práticas de produção e biocidas protegem o consumidor
http://www.quimica.com.br/revista/qd475/cosmeticos/cosmeticos01.html

quinta-feira, 5 de março de 2009

Obesidade programada

Até hoje houveram poucos estudos epidemiológicos associando a exposição intrauterina a agentes químicos e o índice de massa corpórea (BMI).
Na Bélgica, no Departamento de Pediatria da Universidade da Antuérpia, foi realizado recentemente um estudo prospectivo* (pelo grupo de pesquisadores liderados pelo Dr. Stijn Verhust) que revelou a associação entre a exposição prenatal a agentes poluidores ambientais e um elevado BMI durante os 3 primeiros anos de vida.
Desde a década de 90 do séc.XX, pesquisadores, biólogos e médicos vêm colecionando dados que a exposição aos interferentes endócrinos como os bifenil policlorados (PCBs), bisfenol A (BPA), ftalatos e dioxinas durante fases críticas do desenvolvimento fetal possam aumentar o risco, entre outros, de obesidade na vida adulta. Somado a isto, a exposição ao fumo de tabaco na fase prenatal tem sido ligada a um ulterior aumento no desenvolvimento de obesidade, pois todas estas exposições estão ligadas a alterações nos mecanismos homeostáticos do controle de peso.
Usando um modelo de estudo longitudinal, os pesquisadores obtiveram uma amostra aleatória de 138 mães e bebês em um período de 2 anos (entre 2002 e 2004). As amostras foram selecionadas dentro de áreas geográficas com diferentes características ambientais e de contaminantes (rural, urbana, industrial).
Dados epidemiológicos foram coletados dos pais. Ao nascer o peso e a altura dos bebês foram medidos e analisados e sangue do cordão foi coletado para medidas de hexaclorobenzeno, compostos relacionados à dioxinas, PCBs e DDE (metabólito de pesticidas). Todas as crianças foram seguidas por 3 anos.
Primeiramente, os níveis mais elevados de PCBs foram associados a um maior desvio para cima na curva de BMI nas crianças entre 1 e 3 anos. Fumo materno também. A combinação de ambos apresentou-se estatísticamente significante.
Os resíduos de pesticida (DDE) foram associados a um discreto aumento no BMI nas crianças de 3 anos de mães não fumantes, mas este aumento foi bem maior nos filhos de mães fumantes.
Os pesquisadores relatam as limitações do estudo, como o aumento de peso materno durante a gravidez, que é um importante fator de risco para obesidade e não foi abordado no estudo. Além disso eles assinalam que as crianças foram seguidas somente por 3 anos. Embora ainda caiba um seguimento por períodos mais longos destes dados para que se verifique se as observações se mantém ao longo dos anos, sabe-se que um elevado BMI na primeira infância é associado a um risco aumentado para obesidade na idade adulta.
Este é o primeiro estudo epidemiológico realizado para demonstrar o impacto da exposição prenatal a agentes poluentes sobre o índice de massa corporal durante o período pré-escolar.

* Verhust et al
Environmental Heath Perspectives,vol.117, n.3, março 2009, pag 122-6
para ler o artigo, clique no título deste post ou acesse:
http://www.ehponline.org/members/2008/0800003/0800003.pdf

quarta-feira, 4 de março de 2009

Ela é só uma menina...

Ela tem 9 anos.
Ela mora no interior, mais de 200km da capital, no agreste pernambucano.
Ela começou a sentir-se mal. A barriga crescia, mas não era de verme. Tontura e enjoo.
Ela só tem 9 anos, é uma menina.
Abusada.
Faz três anos que acontece.
Ela pesa 33 kg e mede 1,33 m de altura.
É pequena, é mirrada.
Ela estava grávida de gêmeos.
De seu padastro.
Ela corria risco de vida.
Sua mãe não sabia, ou disse não saber.
Também não sabia, ou disse não saber, dos abusos sobre a sua irmã mais velha, de 14 anos, deficiente física e mental.
Hoje abortou, amparada pela lei e ameaçada de excomunhão pela Igreja.
Ela só tem 9 anos.

Ela tem 8 anos. Sua irmã tem 5. Vivem no interior de S.Paulo.
Zombam delas na escola, perguntam se elas foram estupradas.
Ele é um menino de 10, não quer mais ir à escola.
Ela é uma adolescente de 13.
São alguns de muitos.
Abusados por um homem de meia-idade que lhes dava doces e pipas.

Ela é uma. Ele é um.
De tantos.
Tantas meninas (e meninos) desprotegidos dentro de suas casas e de suas famílias.
Tantos meninos e meninas usados na sua fragilidade em uma fase que vai condicionar seus comportamentos por toda a vida.
Tantas vozes mudas, gritando por ajuda.

Podia ser sua filha, seu filho, podia ser sua irmã, seu irmão. Podia ser você.

Pedofilia é crime hediondo.
Denuncie.
Procure ajuda.
Proteja nossa infância.

Onde denunciar:
Ministério Público: http://www.prsp.mpf.gov.br/
Polícia Federal: http://www.dpf.gov.br/ (fale conosco)
Pedofilia na Internet: http://www.censura.com.br/

terça-feira, 3 de março de 2009

Dr.a Sylvia Searle e os oceanos

Vi no blog da Thais Saito, o Vida Verde (veja na barra de blogs: http://blogvidaverde.com.br/?p=345, "Sem o azul não haverá verde"), o vídeo da Dr.a Sylvia Searle sobre os oceanos.
Me fez lembrar quando pela primeira vez entendi o que significa prioridade. Eu era muito jovem, tipo 18 anos, e me surpreendi com um neonato prematuro em distress respiratório que recusava a alimentação porque quando mamava não conseguia respirar. Então entendi que se morre de fome, mas antes se morre sufocado e que mesmo um neonato é capaz de instintivamente selecionar o que é prioritário.
Dependemos de algumas coisas para viver: ar, água, luz, alimento. Estas coisas são muito relacionadas entre si. São imprescindíveis para a vida.
Se quisermos sobreviver como espécie temos que pensar nestas prioridades com seriedade. Muito mais seriamente de quanto temos pensado. E fazermos muito mais do temos feito.
Temos um sério problema e a precocidade de nosso intervento é que vai fazer a diferença. Como num imenso câncer invasivo e maligno, a hora é agora.

Para ver o filme, vá ao Vida Verde ( http://blogvidaverde.com.br/?p=345 ) ou clique no título deste post.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Todas as vias levam ao dano...

Pesquisadores do Laboratoire de Pharmacologie et Toxicologie, do Institut National de la Recherche Agronomique de Toulouse, França, investigaram potenciais mecanismos de ação dos ftalatos nos fígados de camundongos adultos in vivo.
Os camundongos foram expostos a doses variadas de DEHP. Os autores observaram que os genes hepáticos modulados pelo DEHP foram predominantemente os alvos PPAR alfa (receptores da proliferação dos peroxissomas alfa), coisa já sabida. No entanto, a introdução de genes prototípicos do citocromo P450 suporta fortemente a possibilidade da ativação de outras vias NR adicionais, incluindo a do Receptor Constitutivo da Androstana (CAR).
A integração dos perfis transcriptômicos e metabonômicos revelaram uma correlação entre os efeitos do DEHP sobre os genes e metabólitos ligados à síntese do heme e da via do Rev-Erbalfa que sinala os níveis endógenos do heme. Os autores também confirmam o impacto do DEHP na expressão hepática de uma enzima crítica para a síntese do heme, a Alas1 e na expressão dos genes alvo Rev-Erbalfa envolvidos na regulação do relógio celular e no metabolismo energético.
Assim, este artigo mostra que o DEHP interfere com as vias hepáticas do CAR e do Rev-Erbalfa, ambas envolvidas diretamente com o controle metabólico e que estas vias podem contribuir para os distúrbios metabólicos e endócrinos associados aos ftalatos.
Perfis da expressão genética realizados em testículos microdissecados mostraram uma responsividade diferenciada ao DEHP.
Os autores sugerem que em base a estes resultados, sejam realizados maiores estudos.

Esta última frase é uma praxe. Na verdade já se ventilava outras vias paralelas de ação dos ftalatos além do famoso PPAR. Só ele não justificaria os outros achados e as evidências epidemiológicas e experimentais relacionadas à exposição a estes agentes em algumas espécies (inclusive a humana).
Sem dúvida, os efeitos destas substâncias sobre o metabolismo traz algumas hipóteses que merecem realmente investigação aprofundada.
Quanto mais não seja pelo simples fato que a epidemia de síndromes dismetabólicas como Obesidade e a Resistência Insulínica, sérios e bem documentados fatores de risco para síndromes cardiovasculares, doenças degenerativas e cânceres. E pelo fato de não haver lugar no planeta onde estas substâncias (os ftalatos) ainda não tenham chegado...

Para saber mais:
Eveillard A, Lasserre F, de Tayrac M, Polizzi A, Claus S, Canlet C, Mselli-Lakhal L, Gotardi G, Paris A, Guillou H, Martin PG, Pineau T.
Identification of potential mechanisms of toxicity after di-(2-ethylhexyl)-phthalate (DEHP) adult exposure in the liver using a systems biology approach.
Toxicol Appl Pharmacol. 2009 Feb 23.

sobre PPARs: http://ppar.cas.psu.edu/pparrfront.htm