terça-feira, 19 de agosto de 2008

Onde há fumaça há fogo

Quando se fala de risco, efetivamente é o câncer a coisa que vem em mente em primeiro lugar. As pessoas normalmente se perguntam: -“Ah, esta coisa é de risco para minha saúde, então essa coisa dá câncer?” Por muitos anos esta também foi a pergunta da comunidade científica sobre o risco de uma substância: provoca câncer? É cancerígeno?
Além disso outros questionamentos também eram feitos, coisas como: “Provoca mudanças no DNA da célula ou na síntese protêica, é mutagênico, é genotóxico?” ou “Pode causar dano ao feto em formação, é teratogênico?”...
De recente mais uma pergunta passou a ser levada em consideração: “Esta substância pode causar efeitos sobre o equilibrio hormonal do indivíduo, é interferente hormonal?”.
Então, como a coisa é complexa, vamos começar com a preocupação mais comum, mais intuitiva: o câncer.
Mas como se determina o risco de câncer? Existem dois métodos para determinação de risco de câncer por exposição à contaminantes químicos: o epidemiológico e o experimental.
O método experimental se baseia em estudos feitos em animais de laboratório, geralmente realizados por institutos oficiais e controlados. Os resultados destes testes são aceitos como presuntivos de risco para seres humanos por organizações como a OMS (Organização Mundial da Saúde, WHO). Através da Agência Internacional para a Pesquisa em Câncer (IARC), estes dados são analisados e o consenso derivado deles é utilizado como base para normativas e aspectos técnicos legislativos.
A maioria das substâncias identificadas como cancerígenas em humanos foram detectadas inicialmente em estudos animais, especialmente em ratos e camundongos, e depois confirmadas tais por estudos epidemiológicos.
Muitas empresas alegam em sua defesa quando fazem uso de substâncias de risco, que qualquer substância em doses muito elevadas poderia ser carcinogênica e que tudo seria somente uma questão de dose. Mas esta tese não é verdadeira. Nem tudo é carcinogênico para ratos, por exemplo. Atualmente somente menos de 700 substâncias.
Os estudos de caráter epidemiológico são realizados a partir da observação de uma população exposta a um particular tipo de carcinógeno ou carcinógenos, e depois comparadas a uma população controle não exposta no que diz respeito a incidência destas patologias.
Estudos epidemiológicos de larga escala já foram realizados, por exemplo, o que relaciona o fumo de cigarros e a aumentada incidência de tumores. Mesmo em larga escala é possível dividir claramente o grupo de fumantes e o de não fumantes.
Estudos epidemiológicos com cosméticos e produtos de cuidados pessoais, além de serem de larga escala, são difíceis de serem realizados, pois os grupos não ficam bem definidos uma vez que os agentes comprometidos estão incluídos em várias formulações de utilização diferente, tornando muito difícil em termos práticos a seleção de um grupo controle. Por este motivo existem poucos estudos epidemiológicos com produtos de cuidados pessoais. Exceções são grupos específicos de produtos (como as tintas de cabelo, talco) e grupos profissionais como cabeleireiros e esteticistas.
Mas quão realística é a afirmação que produtos de cuidados pessoais podem conter substâncias cancerígenas?
Existem várias fontes sérias que avaliaram o problema, por exemplo, o IARC (nas suas monografias, quase 90 publicações detalhando diferentes classes de agentes químicos) e o National Toxicology Program que publica os 600 relatórios do National Institute of Health Technical Report Series (baseado em estudos em roedores) e seu relatório denominado “Report on Carcinogens” atualmente na sua 11º edição.
Nenhuma entidade governamental deste porte investiria tempo e dinheiro em pesquisa se o assunto não fosse relevante.

(Este texto é parte integrante do livro "Mamãe passou açúcar em mim", e é protegido por copyright. Para autorizações, favor consultar a autora)

NA: Já publiquei no blog antigo posts sobre agentes neoplásicos presentes em cosméticos. As datas são:
05 de março de 2007, 07 de março de 2007,
31 de março de 2007

Deixo aqui os links para eles:
http://leiaorotulo.zip.net/arch2007-03-04_2007-03-10.html
http://leiaorotulo.zip.net/arch2007-03-25_2007-03-31.html

Nenhum comentário: