quinta-feira, 5 de março de 2009

Obesidade programada

Até hoje houveram poucos estudos epidemiológicos associando a exposição intrauterina a agentes químicos e o índice de massa corpórea (BMI).
Na Bélgica, no Departamento de Pediatria da Universidade da Antuérpia, foi realizado recentemente um estudo prospectivo* (pelo grupo de pesquisadores liderados pelo Dr. Stijn Verhust) que revelou a associação entre a exposição prenatal a agentes poluidores ambientais e um elevado BMI durante os 3 primeiros anos de vida.
Desde a década de 90 do séc.XX, pesquisadores, biólogos e médicos vêm colecionando dados que a exposição aos interferentes endócrinos como os bifenil policlorados (PCBs), bisfenol A (BPA), ftalatos e dioxinas durante fases críticas do desenvolvimento fetal possam aumentar o risco, entre outros, de obesidade na vida adulta. Somado a isto, a exposição ao fumo de tabaco na fase prenatal tem sido ligada a um ulterior aumento no desenvolvimento de obesidade, pois todas estas exposições estão ligadas a alterações nos mecanismos homeostáticos do controle de peso.
Usando um modelo de estudo longitudinal, os pesquisadores obtiveram uma amostra aleatória de 138 mães e bebês em um período de 2 anos (entre 2002 e 2004). As amostras foram selecionadas dentro de áreas geográficas com diferentes características ambientais e de contaminantes (rural, urbana, industrial).
Dados epidemiológicos foram coletados dos pais. Ao nascer o peso e a altura dos bebês foram medidos e analisados e sangue do cordão foi coletado para medidas de hexaclorobenzeno, compostos relacionados à dioxinas, PCBs e DDE (metabólito de pesticidas). Todas as crianças foram seguidas por 3 anos.
Primeiramente, os níveis mais elevados de PCBs foram associados a um maior desvio para cima na curva de BMI nas crianças entre 1 e 3 anos. Fumo materno também. A combinação de ambos apresentou-se estatísticamente significante.
Os resíduos de pesticida (DDE) foram associados a um discreto aumento no BMI nas crianças de 3 anos de mães não fumantes, mas este aumento foi bem maior nos filhos de mães fumantes.
Os pesquisadores relatam as limitações do estudo, como o aumento de peso materno durante a gravidez, que é um importante fator de risco para obesidade e não foi abordado no estudo. Além disso eles assinalam que as crianças foram seguidas somente por 3 anos. Embora ainda caiba um seguimento por períodos mais longos destes dados para que se verifique se as observações se mantém ao longo dos anos, sabe-se que um elevado BMI na primeira infância é associado a um risco aumentado para obesidade na idade adulta.
Este é o primeiro estudo epidemiológico realizado para demonstrar o impacto da exposição prenatal a agentes poluentes sobre o índice de massa corporal durante o período pré-escolar.

* Verhust et al
Environmental Heath Perspectives,vol.117, n.3, março 2009, pag 122-6
para ler o artigo, clique no título deste post ou acesse:
http://www.ehponline.org/members/2008/0800003/0800003.pdf

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