quarta-feira, 4 de março de 2009

Ela é só uma menina...

Ela tem 9 anos.
Ela mora no interior, mais de 200km da capital, no agreste pernambucano.
Ela começou a sentir-se mal. A barriga crescia, mas não era de verme. Tontura e enjoo.
Ela só tem 9 anos, é uma menina.
Abusada.
Faz três anos que acontece.
Ela pesa 33 kg e mede 1,33 m de altura.
É pequena, é mirrada.
Ela estava grávida de gêmeos.
De seu padastro.
Ela corria risco de vida.
Sua mãe não sabia, ou disse não saber.
Também não sabia, ou disse não saber, dos abusos sobre a sua irmã mais velha, de 14 anos, deficiente física e mental.
Hoje abortou, amparada pela lei e ameaçada de excomunhão pela Igreja.
Ela só tem 9 anos.

Ela tem 8 anos. Sua irmã tem 5. Vivem no interior de S.Paulo.
Zombam delas na escola, perguntam se elas foram estupradas.
Ele é um menino de 10, não quer mais ir à escola.
Ela é uma adolescente de 13.
São alguns de muitos.
Abusados por um homem de meia-idade que lhes dava doces e pipas.

Ela é uma. Ele é um.
De tantos.
Tantas meninas (e meninos) desprotegidos dentro de suas casas e de suas famílias.
Tantos meninos e meninas usados na sua fragilidade em uma fase que vai condicionar seus comportamentos por toda a vida.
Tantas vozes mudas, gritando por ajuda.

Podia ser sua filha, seu filho, podia ser sua irmã, seu irmão. Podia ser você.

Pedofilia é crime hediondo.
Denuncie.
Procure ajuda.
Proteja nossa infância.

Onde denunciar:
Ministério Público: http://www.prsp.mpf.gov.br/
Polícia Federal: http://www.dpf.gov.br/ (fale conosco)
Pedofilia na Internet: http://www.censura.com.br/

4 comentários:

thais disse...

ai, sandra...... isso me dói na alma!
me dá nojo (da igreja e dos adultos envolvidos - os que fizeram e os que não viram), dó dessas crianças e um medo tão grande... um pavor tão imenso que eu não consigo nem manter o pensamento por mais de 3 minutos.

aqui no japão tem muitos casos, mas os envolvidos não denunciam para "manter a integridade da criança". enfim........

beijo,

Sandra Goraieb disse...

Thais, o que me preocupa é que tem gente que menospreza o papel de mãe achando que estas crianças teriam condições físicas e psicológicas de levar adiante uma maternidade responsável. Elas são crianças, gente. Como você escreve sempre: pelamordedeus, a gente precisa entender que ser mãe não é igual a brincar de casinha.
A gente tem que tratar estas crianças, para que no futuro elas não repitam este comportamento odioso sobre outras crianças, perpetuando o drama. É necessário um canal facilitado e sério para prevenção e atuação sobre os casos comprovados de pedofilia. Sem preconceitos e falsos moralismos: quem tem que ser tratado, que o seja; quem tem que ser punido, que o seja; quem tem a consciência que está nesta barca em qualquer uma das posições, que procure ajuda urgente. O importante é preservar a integridade física e psíquica destas crianças em risco e que são tantas, pois como um iceberg a maioria da coisa fica escondida dentro dos mecanismos familiares e dos poderes internos nas relações.

Juliana disse...

Moro nos EUA e há algum tempo atrás, a NBC fez uma série dentro de seu programa Dateline NBC chamada To Catch a Predator (Caça ao Predador), e na série, eles tinham ajuda de uma ONG e da policia, onde pessoas maiores de idade se faziam passar por crianças na internet e marcavam "encontros" em casa com esses pedófilos. Quando eles chegavam na casa, o repórter não se identificava e confrontava a pessoa sobre a razão de estar ali. Quando o predador tentava fugir ou pedia para ir embora, a polícia já estava esperando por ele fora da casa e levava preso. Cada episódio eles relatavam de 25 a 30 pessoas presas. Talvez seja isso que devia ser feito no Brasil... Infelizmente não iríamos pegar casos como esse de Pernambuco, mas o mundo seria um pouquinho mais seguro...

Sandra Goraieb disse...

Juliana, obrigada por seu comentário. Sabe, na Itália tem um número de telefone dedicado para as crianças poderem pedir ajuda. É gratuito e divulgado na TV, nos horários dos programas infantis. Infelizmente este é um fenômeno dramático que está em todos os lugares do mundo. Não tem fronteiras e é muito mais frequente de quanto a gente supõe, principalmente porque ocorre dentro de ambientes protegidos, como a própria família ou o círculo social da criança. As vítimas são colocadas às vezes em situação ambígua, conflitual, e que acaba por encobrir a violência.
Acho que seria necessário mesmo um canal especial para estas pequenas vítimas, mais esclarecimento, mais atenção.
Um abração.