sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Você é o que você come.

Estive vendo umas coisinhas sobre a relação entre a dieta materna e as doenças que o feto pode desenvolver na sua vida adulta, incluindo doença coronária e resistência insulínica. Interessante a hipótese que se possa programar a qualidade de vida de uma pessoa a partir do útero. Em animais observou-se que a subnutrição intra-uterina leva a danos renais, cerebrais e cardíacos, aparentemente devidos ao remodelamento do desenvolvimento associado com a diferenciação e proliferação celular. Mesmo variações menores no status nutricional materno são capazes de causar desvios importantes no ambiente fetal que poderiam levar a alteração na expressão de genes chave, responsáveis pela remodelação tissular e o futuro risco associado às várias doenças.
Os fatores nutricionais poderiam também levar a estes processos por alterar a fisiologia placentária, incluindo as trocas materno-fetais além da regulação epigenética da expressão genética.
Na verdade a gente acabaria sendo reflexo daquilo que a gente come, ou o que nossas mães comeram quando éramos fetos. E nossos "achaques" e "condores" da idade adulta, consequência tardia de um estilo de vida precoce.
Aí, pensei nas imensas quantidades de glutamato monossódico que as pessoas ingerem diariamente, inclusive as gestantes sem uma correta orientação, e nas possibilidades patológicas que estas substâncias poderiam trazer aos fetos a longo prazo.
O Glutamato de sódio causa inflamação nas células hepáticas, esteatose não alcoólica, hepatite, lesões pré-cancerosas, obesidade central e diabetes do tipo 2 em animais de experimentação, não diferentes das observadas em seres humanos.
Coisa para se pensar e levar a sério (e não à boca).


Para saber mais:

Langley-Evans SC.
Nutritional programming of disease: unravelling the mechanism.
J Anat. 2008 Oct 8.

Nakanishi Y, Tsuneyama K, Fujimoto M, Salunga TL, Nomoto K, An JL, Takano Y, Iizuka S, Nagata M, Suzuki W, Shimada T, Aburada M, Nakano M, Selmi C, Gershwin ME.
Monosodium glutamate (MSG): a villain and promoter of liver inflammation and dysplasia.
J Autoimmun. 2008 Feb-Mar;30(1-2):42-50

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Um post excelente em um blog delicioso

Já estava engatilhado desde ontem, direto do blog da Pat Feldman: "Crianças na cozinha", uma pérola imperdível sobre alimentos e produtos alimentícios no texto do Dr. Carlos Braghini:

http://pat.feldman.com.br/?p=4391#more-4391.


Para entender, digerir e viver melhor (e aproveitar para ensinar sabores genuínos pra molecada)! Vão lá e leiam tudinho. Basta clicar no título deste blog.

Ah, o blog dela já está na lista dos blablablogs aí ao lado, para visitar sempre.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Diisobutilftalato: efeitos no sistema reprodutor masculino

O Diisobutilftalato (DIBP) é um isômero ramificado do Dibutilftalato (DBP).
As cadeias laterais do DBP possuem um esqueleto de 4 carbonos, enquanto o DIBP tem suas cadeias alquil de 4 carbonos reagrupadas em um esqueleto de 3 carbonos com uma ramificação metil.
O DBP e muitos outros esteres ortoftálicos com cadeias laterais de tamanho C4-C6 são conhecidos interferentes hormonais na diferenciação andrógeno-dependente.
Os pesquisadores, Anne-Marie Saillenfait, Jean-Philippe Sabaté, Frédéric Gallissot do Institut National de Recherche et de Sécurité, Vandoeuvre, França, desenharam um estudo para determinar se a exposição intrauterina ao DIBP poderia induzir a alterações permanentes e dose dependentes do desenvolvimento do sistema reprodutivo masculino nestes animais.
Através de gavagem os ratos foram alimentados com óleo de oliva, DIBP ou DBP durante o perído compreendido entre o 12° e o 21° dias de gestação com doses de 125, 250, 500 e 625mg/kg/dia de DIBP e 500 mg/kg/dia de DBP.
O DIBP não causou toxicidade evidente nas mães, nem reduziu o tamanho fetal, no entanto os filhotes machos apresentaram distância ano-genital diminuída neonatal na dose de 250mg/kg/dia de DIBP e doses maiores levaram a retenção areolar e dos mamilos, separação prepucial atrasada (na puberdade) nas doses de 500 e 625mg/kg/dia. Hipospadias, prepucio fendido e criptorquidia (não descida dos testículos) foram observadas nos ratos machos expostos intra-utero a doses de 500 a 625mg/kg/dia de DIBP. Lesões histopatológicas nos testículos, em especial degeneração dos túbulos seminíferos foram também observadas.
Os autores concluiram que o DIBP pode causar danos ao sistema reprodutivo dos ratos similares aos observados com o DBP, embora o DIBP apresente-se menos potente em induzir malformações.

Para ler o artigo:

Anne-Marie Saillenfait, Jean-Philippe Sabaté, Frédéric Gallissot
Diisobutyl phthalate impairs the androgen-dependent reproductive development of the male rat
Reproductive Toxicology
Volume 26, Issue 2, October 2008, Pages 107-115

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A importância dos receptores

Saiu um livro sobre Toxicologia Molecular da coleção Experientia Supplementum, onde há um capítulo que trata da importância dos receptores como mediadores da toxicidade e da interferência hormonal, escrito por um grupo de pesquisadores do Instituto Karolinska de Estocolmo. Outros capítulos no livro também são bastante interessantes.
Me pareceu bem didático.
O livro custa U$199,00 dolares e é disponível para compra no site da Springer abaixo.
Segue o abstract do capítulo:

Many toxic compounds exert their harmful effects by activating of certain receptors, which in turn leads to dysregulation of transcription. Some of these receptors are so called xenosensors. They are activated by external chemicals and evoke a cascade of events that lead to the elimination of the chemical from the system. Other receptors that are modulated by toxic substances are hormone receptors, particularly the ones of the nuclear receptor family. Some environmental chemicals resemble endogenous hormones and can falsely activate these receptors, leading to undesired activity in the cell. Furthermore, excessive activation of the xenosensors can lead to disturbances of the integrity of the system as well. In this chapter, the concepts of receptor-mediated toxicity and hormone disruption are introduced. We start by describing environmental chemicals that can bind to xenosensors and nuclear hormone receptors. We then describe the receptors most commonly targeted by environmental chemicals. Finally, the mechanisms by which receptor-mediated events can disrupt the system are depicted.

Rüegg J, Penttinen-Damdimopoulou P, Mäkelä S, Pongratz I, Gustafsson JA.
Receptors mediating toxicity and their involvement in endocrine disruption.
in sit
Molecular, Clinical and Environmental Toxicology
Volume 1: Molecular Toxicology
Series: Experientia Supplementum , Vol. 99:289-323
http://www.springer.com/birkhauser/biosciences/book/978-3-7643-8335-0

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Trilussa, banalidades, prazeres e outras idiotices

Me disse uma vez o diretor de uma UTI que trabalhei, que depois dos 45, o indivíduo adquire o direito de dizer o que quiser. Talvez este direito devesse chegar antes.
De qualquer forma, como eu já passei faz algum tempo dessa data fatídica, tenho o direito adquirido.
Então, hoje é provável que não lhes fale nada de sério. Não estou disposta.
TPM, acho. Mas como é melhor tê-la que reposição hormonal, então a gente encara.
Pode ser só preguiça, cansaço, mau humor, ou os primeiros sintomas de uma síndrome depressiva ou uma virose. Pode ser o clima, a mudança dele, ou simplesmente nada. Tinha meteopatia quando soprava o Scirocco. E não era a única.
Na Italia, me disseram que o consumo de pizza e pasta aumentava a biodisponibilidade de serotonina. Então, vou me afogar nos carbohidratos e procurar a felicidade gustativa.
Como, apesar de tudo, sou uma "nega" legal, vou dar para vocês o segredo da minha sogra romana: a receita da massa de macarrão fresca com ovos.
Melhor que terapia, pois você amassa e descarrega a raiva, faz exercíco, libera endorfinas e depois ainda dá um eletrochoque gastronômico no dia cinza, chuvoso e sem graça. Na pior hipótese, vai comer algo que vale a pena.
Para cada pessoa, são 100 gramas de farinha sendo metade de grão macio (farinha comum 00) e metade de grão duro, um ovo inteiro, uma pitada de sal. E amassar, amassar, amassar... pensando naquilo que te incomoda e botando a mão na massa.
Depois vem a fase de abrir a "sfoglia", com aquele rolo de macarrão (que sugiro grande) antigo, ou para os hightech aquelas maquininhas de rolo.
Abra bem, a massa não deve ser muito grossa para não ficar pesada. Para os matemáticos, precisinhos e afins, coisa de 1mm.
Podem ser criativos na hora de cortar: lasagna, mais larga; papardelle, larga; tagliatelle, mais fina, como uma fita de 0,5 cm. Ou façam capelleti, raviolli, agnolotti, com recheios variados.
O molho é outra conversa. Cada um faz o que preferir, desde que seja rico, encorpado, cheio de perfume (pois sabor é boa parte de perfume).
Eu gosto mesmo é de um sugo ou ragu simples e eficaz. As coisas mais simples, os sabores mais honestos são sempre os melhores.

Mudando de assunto, tenho visto a grande preocupação dos blogs científicos em abordar a religião. Ouvi até que dá ibope. Talvez seja verdade. Em vez de discutir hipóteses, vou contar histórias e um poeminha de um poeta dialetal romano, Trilussa (Carlo Salustri). Meu prof. de Pediatria em Roma o conheceu pessoalmente e sempre nos contava sobre ele. Tem um poema que é a definição da estatística. Ele diz em resumo que a Estatística é a exata ciência onde se eu como 2 frangos e você não come nada, estamos ambos muito bem alimentados (ver abaixo).

La Statistica

Sai ched'è la statistica? È na' cosa
che serve pe fà un conto in generale
de la gente che nasce, che sta male,
che more, che va in carcere e che spósa.

Ma pè me la statistica curiosa
è dove c'entra la percentuale,
pè via che, lì,la media è sempre eguale
puro co' la persona bisognosa.

Me spiego: da li conti che se fanno
seconno le statistiche d'adesso
risurta che te tocca un pollo all'anno:

e, se nun entra nelle spese tue,
t'entra ne la statistica lo stesso
perch'è c'è un antro che ne magna due.


Obviamente, a Estatística é bem mais do que isto, mas nos causava uma boa gargalhada.
Estatística não é mesmo pra todo mundo. Assim como farmacologia, bioquímica, biofísica e outras ciências ditas "básicas", faz pipocar o corpo de muita gente.
É como proteína, que é estrutural mas causa alergia, hehehe...
Deontologia também, mas o motivo é outro.
Nummeri

- Conterò poco, è vero:
- diceva l'Uno ar Zero -
ma tu che vali? Gnente: propio gnente.
Sia ne l'azzione come ner pensiero
rimani un coso voto e inconcrudente.
lo, invece, se me metto a capofila
de cinque zeri tale e quale a te,
lo sai quanto divento? Centomila.
È questione de nummeri. A un dipresso
è quello che succede ar dittatore
che cresce de potenza e de valore
più so' li zeri che je vanno appresso.


E sobre a guerra, a sempre presente guerra, tem também umas coisinhas, um pouco antigas (outubro de 1914), mas sempre atuais e aplicáveis aos nossos dias, para provar "che tutto er monno è paese"...

La ninna-nanna de la guerra

Ninna nanna, nanna ninna,
er pupetto vô la zinna *:
dormi, dormi, cocco bello,
sennò chiamo Farfarello **
Farfarello e Gujermone ***
Gujermone e Ceccopeppe +
che se regge co' le zeppe,
co' le zeppe d'un impero
mezzo giallo e mezzo nero.

Ninna nanna, pija sonno
ché se dormi nun vedrai
tante infamie e tanti guai
che succedeno ner monno
fra le spade e li fucilli
de li popoli civilli...

Ninna nanna, tu nun senti
li sospiri e li lamenti
de la gente che se scanna
per un matto che commanna;
che se scanna e che s'ammazza
a vantaggio de la razza...
o a vantaggio d'una fede
per un Dio che nun se vede,
ma che serve da riparo
ar Sovrano macellaro.

Ché quer covo d'assassini
che c'insanguina la terra
sa benone che la guerra
è un gran giro de quatrini
che prepara le risorse
pe' li ladri de le Borse.

Fa' la ninna, cocco bello,
finché dura 'sto macello:
fa' la ninna, ché domani
rivedremo li sovrani
che se scambieno la stima
boni amichi come prima.
So' cuggini e fra parenti
nun se fanno comprimenti:
torneranno più cordiali
li rapporti personali.

E riuniti fra de loro
senza l'ombra d'un rimorso,
ce faranno un ber discorso
su la Pace e sul Lavoro
pe' quer popolo cojone
risparmiato dar cannone!


* o seio
** o diabo
*** Guilherme II
+ Francisco José


Então, dá-lhe Trilussa!
Mesmo porque, para bom entendedor, até dialeto basta.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Beleza Natureba

Para quem quer receitinhas naturais e baratinhas para máscaras de beleza, trago aqui algumas*. São receitinhas do tempo da vovó, que podem ser feitas em casa com produtos orgânicos (verdadeiros) e obter aquilo que industrialmente não é possível: um verdadeiro cosmético orgânico.

Máscara de choque(para depois de uma noitada):
1 colher de mel,
1 colher de leite fresco,
1 colher de farinha branca.
Misture. Aplique sobre o rosto e deixe repousar por 15 minutos.
Enxaguar com água morna.

Máscara contra os pontos negros (cravos) :
1 pedaço de abóbora amarela cozida,
1 colher de creme de leite fresco.
Misture bem. Aplique sobre o rosto por meia hora.
Enxague bem com água morna.

Máscara para a pele oleosa:
1 colher de mel
1 colher de suco tomate fresco.
Deixe no rosto a mistura por 20 minutos.
Enxague com água morna.

Máscara para pele seca:
Manteiga de leite de cabra.
Aplique no rosto por 20 minutos.

Máscara anti-rugas:
1 batata cozida
1 colher de yogurt.
Deixe no rosto por 20 minutos, enxague em seguida com água morna
ou utilizar 1 gema de ovo e
polpa de 1/2 maçã.

Máscara para reduzir olheiras:
1 gema
1 colher de mel (de flores mistas)
1 colher de óleo de oliva
1 colher de leite fresco.
Aplicar por 10 minutos, enxaguar com água morna alternada com água fria.

Loção detergente para o rosto:
1 xícara de leite fresco
algumas folhas de menta (hortelã)
Embeba um algodão e passe várias vezes no rosto, lábios, pescoço.
Enxague.

Bálsamo para cabelos: depois de lavados, passe sobre os cabelos leite fresco ou creme de leite. Deixe agir por 15 minutos. No último enxague, adicione uma colher de vinagre.

E quer também uma dica para limpar objetos de prata? Sabe o leite que estragou, coalhou e você vai jogar fora? Pois é uma solução econômica e ecológica para fazê-los brilhar de novo.


+E na agestado a notícia da interdição de um lote de condicionador da "Turma da Mônica", para saber mais acesse:
http://noticias.uol.com.br/ultnot/agencia/2009/01/21/ult4469u36338.jhtm

+Hoje é o dia 01 da era Obama. Tomara que ele seja para muitos a promessa que representa. Eu aqui, nel mio piccolo, tenho clara a percepção que ele é presidente dos americanos e não o salvador da humanidade. Anyway, auguri!

*(fonte: Il Messaggero)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Parabéns, farmacêutico, hoje é seu dia!

Hoje é dia do Farmacêutico.
Carreira versátil e imprescindível na sociedade, os farmacêuticos atuam em tantas esferas. Pude conviver com eles tanto em ambiente hospitalar como na indústria cosmética e vejo a importância de seu trabalho.
A todos eles quero dar os parabéns pelo seu dia, desejando que os talentos possam ser reconhecidos.
Em especial quero dar os parabéns a Lílian Melo, responsável técnica pela nossa produção. Obrigada pelo carinho que você sempre nos demonstrou.
Parabéns!

Ingredientes cosméticos e eczema crônico

Artigo de meados do ano passado sobre eczema crônico e sua relação com alguns ingredientes cosméticos, foi publicado por um grupo da República Tcheca. Achei interessante pois dá nome aos bois.
O objetivo do artigo foi identificar a frequência de sensibilização por contato aos ingredientes cosméticos estudados e a fonte da sensibilização.
Foram incluídos no estudo 1927 pacientes portadores de eczema crônico e estes foram submetidos ao patch test a agentes selecionados cujos resultados foram os seguintes:

thiomersal 11.3%,
wool alcohols 4.0% (álcoois de lanolina),
phenylmercuric acetate 3.1% (acetato de fenilmercúrio),
formaldehyde 2.5% (formol),
dodecyl gallate 2.0% (dodecil galato),
Bronopol 1.9%,
dibromodicyanobutane/ phenoxyethanol (1:4) 1.7% (dibromocianobutano em associação com fenoxietanol),
chloracetamide 1.6% (cloracetamida),
chlorhexidine digluconate 1.5% (clorexedine),
Kathon CG 1.4% (Metilisotiazolinona e metilcloroisotiazolinona),
parabens 1.1% (parabenos),
diazolidinyl urea 0.9% (diazolidinil uréia),
imidazolidinyl urea 0.7% (imidazolidinil uréia),
benzalkonium chloride 0.7% (cloreto de benzalcônio),
and Quaternium-15 0.7% (quatérnio 15).
Os autores concluem que a taxa de sensibilização aos excipientes inlusos em formulações tópicas para uso dermatológico e cosmético é significativa.
Mais um bom motivo para obter o máximo de informações a respeito dos ingredientes das formulações cosméticas.

Para saber mais:

Dastychová E, Necas M, Vasku V.
Contact hypersensitivity to selected excipients of dermatological topical preparations and cosmetics in patients with chronic eczema.
Acta Dermatovenerol Alp Panonica Adriat. 2008 Jun;17(2):61-8.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Tem horas que eu gostaria...

... de férias!... e nem precisava ser Pasárgada...

Vou-me Embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei



Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive



E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada



Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar



E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.


Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Nanopartículas e os rins

Do grupo da Universidade de Bordeaux, da Santé- Travail- Environnement, realizado pela Dr.a Béatrice L'Azou e colaboradores, saiu um artigo sobre a toxicidade de nanopartículas em células renais (in vitro).
Os autores propuseram o estudo baseados no fato que nanopartículas podem cruzar a barreira alveolo-capilar e que poderiam translocar pela corrente sanguínea até atingir orgãos alvo distantes de seu ponto de entrada e que a toxicidade das nanopartículas sobre os órgãos ainda foram pouco estudadas.
A autora e seu grupo estudaram a nanotoxicidade in vitro de vários "carbon blacks" (CB)(FW2-13 nm, Printex60-21 nm and LB101-95 nm) e de dióxido de titânio de 15 e 50 nm. A observação interessou seus efeitos nas células mesangiais (IP15) e no epitélio tubular proximal (LLC-PK1) e verificaram uma variedade de respostas celulares diferentes.
A maior toxicidade foi observada com as moléculas menores de carbono FW2NP se considerada a clássica dose-resposta. No entanto, com as diferentes metodologias aplicadas no estudo, as células tubulares proximais acabaram se demonstrando as mais sensíveis.
As partículas de carbono FW2NPs aumentaram significativamente a produção de radicais livres de oxigênio nos dois tipos de células indistintamente.
Através de microscopia por microfluorescência observou-se que as células internalizavam as nanopartículas (dependendo do tamanho das mesmas) e as acumulavam no citoplasma. Foram vistas nanopartículas dentro das células em vesículas.
Os autores, em base aos resultados, concluiram que existiram no estudo vários graus de citotoxicidade nas células renais e que estes efeitos seriam
dependentes do tipo de partícula, do seu tamanho e da célula alvo. Ainda afirmam que seria importante desenvolver (in vitro), padronificar e validar (para os efeitos in vivo) sistemas de avaliação das nanopartículas que possam estabelecer sua toxicidade real em seres humanos.

Para saber mais:

L'azou B, Jorly J, On D, Sellier E, Moisan F, Fleury-Feith J, Cambar J, Brochard P, Ohayon-Courtès C.
In vitro effects of nanoparticles on renal cells.
Part Fibre Toxicol. 2008 Dec 19;5:22.

o artigo é disponível no link
http://www.pubmedcentral.nih.gov/picrender.fcgi?artid=2621238&blobtype=pdf

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Prazer em conhecer: Peter Safar!


Eu tive a honra e o prazer de conhecê-lo.
Foi por suas mãos (e pela intermediação do Dr. John Lane) que frequentei como estagiária o departamento de Anestesiologia e Terapia Intensiva da Universidade de Pittsburgh, na época liderados pelos Dr.s Jan Daniel Smith e Ake Grenvik (de quem já falei, mas talvez não o bastante).
O Dr. Safar nasceu em Viena em 12 de abril de 1924 e faleceu em Mount Lebanon, próximo a Pittsburgh em 3 de agosto de 2003.
Foi um médico e um cientista brilhante e contou ao longo de sua vida acadêmica com mais de 1000 publicações e dezenas de livros.
Devo muito ao Dr. Safar, apesar do curto período que tive a oportunidade de frequentá-lo. Com ele aprendi que as coisas são possíveis. É muito, acreditem.
Sua esposa, Eva Safar, ainda reside em M. Lebanon, e é também uma pessoa explêndida.
O Dr. Safar foi o pioneiro nas técnicas de ressuscitação cardio-respiratória e proteção cerebral(CCPR) pós parada cardíaca. Milhões de pessoas no mundo devem a vida às técnicas de respiração boca-a-boca desenvolvidas por ele e seu grupo de colaboradores e aos anos de estudos dedicados ao aprimoramento da técnica de ressuscitação.
Ele foi indicado por 3 vezes para receber o Nobel em Medicina e do meu ponto de vista foi uma injustiça não o terem favorito.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Prazer em conhecer: Margherita Hack!

Todo mundo tem gente que gostaria de encontrar na vida, poder conhecer, frequentar, ou pelo menos tomar um café e bater um papinho. Tem gente que a gente queria ir em uma palestra, fazer umas perguntas (sem medo de parecer idiota, of course).
Eu tenho algumas delas. Tive oportunidade de conhecer outras tantas, e mesmo por um pequeno fragmento de tempo, você tem a certeza de estar diante de alguém fora do comum.
Já citei aqui a Prof.a Dra. Levi Montalcini. Eu não a encontrei, pena...
Mas ela não é a única cientista italiana da minha lista. Existe uma outra que sou fã de carteirinha. É uma astrofísica: a Prof.a Dra. Margherita Hack.
Esta é uma pessoa que gostaria de conhecer na vida. Uma pessoa de cérebro privilegiado, que fala dos meandros da física com aquela leveza e de forma tão didática que até a matéria obscura parece uma coisa inteligível. Mesmo para quem nunca tratou destes assuntos. É mais capaz didaticamente que o próprio Prof. (Dr.) Zichichi, outro grande cientista, ex-presidente do CERN.
Me maravilha o dom de certas pessoas de serem capazes de transmitir conceitos complexos de forma tão clara. Não é para todo mundo.
A Dr.a Hack nasceu em Firenze (Florença) em 12 de junho de 1922 e se laureou em Física em 1945, lecionou em Trieste e participou de inúmeras agências e institutos avançados em astrofísica. Publicou mais de 250 artigos originais em diversas revistas de relevância. Ouvir-la falar do que mais gosta, ou seja, do Universo, de suas leis, da matéria é uma experiência.
Quem sabe um dia destes...

(No Il Messaggero de Roma a palestra que ela fará dia 15, em italiano:
http://www.ilmessaggero.it/articolo.php?id=41329&sez=HOME_SCIENZA)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Para Alexandra e quem quiser saber mais sobre ftalatos

Os Ftalatos são uma família de substâncias químicas orgânicas produzidas através da combinação de ácido ortoftálico ou tereftálico com um álcool (que pode ser metanol, ou etanol até isodecanol).
Eles são os plasticizantes mais utilizados no mundo. Seu uso teve início faz cerca 50 anos e inicialmente se usavam para tornar o PVC maleável. Os ftalatos possuem um aspecto de óleo vegetal claro, com pouco ou nenhum cheiro, são um pouco amargos.
Na indústria são utilizados amplamente por seus benefícios: flexibilidade, durabilidade, longevidade, aumento da resistência e da performance e baixo custo. São sempre parte de um composto e praticamente nunca se apresentam sozinhos.
Podemos encontrar ftalatos em vários tipos de cenário:em produtos finais plásticos e de PVC,como amolecedor e lubrificante,como aditivo em adesivos, selantes, tintas, etc...,como fixador de perfumes e anticracking em esmaltes, até como combustível de foguetes!
No mercado há cerca de 20 tipos de ftalatos diferentes com diferentes aplicações.
O mais abundante é o dietilexilftalato, o DEHP (ou também conhecido por dioctilftalato, DOP), que representa cerca de 20% de todos os plasticizantes usados no mundo ocidental.
Na cosmética, o mais comum é o DBP, dibutilftalato, que por suas características físico-químicas é utilizado também na nitrocelulose, no PVC, nas tintas e adesivos, na borracha nitrílica e clorada, nas lacas e resinas fenólicas, alquídicas, estirenadas e outras, na moagem de pigmentos, no couro artificial, nos lubrificantes têxteis e na cobertura de papel.
Em resumo, o uso de ftalatos é tão difuso que a substância é ubíqua, podendo ser encontrada até em regiões desérticas do globo, levadas por correntes de ar ou pela cadeia alimentar.
Mas como estas substâncias entram em nossos corpos?
Existem basicamente quatro vias: a inalatória, a transcutânea, a oral, e a via parenteral.
A contaminação pela via parenteral ocorre quando se utilizam materiais médicos realizados em PVC, como cânulas, bolsas de infusão e etc,...
O fato destas substâncias serem aditivos, faz com que elas deixem o composto ao qual se ligam na embalagem e migrem para o conteúdo das mesmas. Quanto mais gorduroso for o conteúdo, maior a afinidade destas substâncias.
A contaminação por via oral se dá através do contato dos alimentos com filmes plásticos de PVC, com embalagens e contenidores desta substância ou através de objetos contendo ftalatos que sejam levados à boca..
A proximidade com objetos que possuam ftalatos como aditivos pode favorecer a contaminação por via inalatória, como ocorre nos brinquedos infantis e nos linóleos, onde o bebê leva o brinquedo à boca e gatinha próximo à fonte. Perfumes também podem conter (e geralmente contém) ftalatos. Tudo o que é perfumado (industrialmente) pode conter esta substância como parte da fórmula, pois sua adição prolonga a duração da fragrância. Cabe lembrar que na maioria das vezes fórmulas de perfumes são segredos industriais e não são abertas ao público. Você nunca vai encontrar no rótulo o nome ou as siglas dos ftalatos.
A via transcutânea diz respeito à passagem através da pele destas substâncias. A pele não é impermeável e apesar da complexidade do mecanismo transcutâneo e de suas realçoes metabólicas, ela deve ser levada em consideração. Neste caso, fatores como o tempo de exposição e a superfície de absorção são importantes.
Faz exceção o PET (que também é um politereftalato de etileno), mas cuja estabilidade molecular confere maior segurança quanto a esta perda.
Os ftalatos são agentes interferentes hormonais, possuem toxicidade reprodutiva, são carcinógenos (para algumas espécies) e mutagênicos.

O que podemos fazer para reduzirmos a carga de exposição a estes agentes? Algumas medidas são bastante simples:
a) abra as janelas de sua casa e areje bem o ambiente sempre que for possível,
b) não use filme de PVC para envolver alimentos gordurosos. Dê preferência a contenidores de vidro ou de aço inox,
c) evite produtos perfumados (ou pelo menos os que não tragam claramente no rótulo que sua fragrância é isenta de ftalatos), evite esmaltes, evite laquês, evite excessos de produtos de beleza se você estiver grávida. Use o necessário para seu estilo de vida, mas sem exageros.
d) ao usar produtos plásticos, dê preferência aos feitos em polipropileno ou em polietileno, por serem mais simples e não conterem aditivos.
e) procure saber quais são os plásticos utilizados nos brinquedos que você compra. Entre em contato com as empresas. Consulte os sites de proteção ao consumidor.

Lembre-se porém que você não vai conseguir zerar a sua exposição a ftalatos, mas vai poder reduzí-la.

Para saber mais:

consulte ao lado nos links:
Nosso Futuro Roubado, Our Stolen Future, Healthy Toys, IDEC...

http://www.greenpeace.org/raw/content/international/press/reports/phthalates-and-artificial-musk.pdf

e os posts relativos aos ftalatos e aos plásticos neste blog.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Triclosan, de novo.

"Alteração da esteroidogênese testicular e histopatologia do sistema reprodutor em ratos machos tratados com triclosan" é o título do artigo coordenado pelo Dr. Parthan Roy e liderado pelo Dr. Kumar do Indian Institute of Technology Roorkee que será publicado na Reproductive Toxicology, mas já está disponível on-line.
Os autores estudaram os efeitos do triclosan e sua toxicidade reprodutiva em ratos (R. norvegicus), tratando-os com 3 doses diárias de triclosan por um período de 2 meses e em seguida avaliaram vários parâmetros bioquímicos.
Através da reação em cadeia da polimerase com trascrição reversa, os autores demonstraram uma diminuição significativa nos níveis de RNAm para a proteína reguladora da esteroidogênese testicular aguda (StAR), citocromo P450 (SCC e C17), 3 beta-hidroxiesteroide desidrogenase (3 betaHSD), 17 beta-hidroxiesteroide desidrogenase (17 beta-HSD) e receptor androgênico (AR) nos ratos tratados com triclosan. Eles também observaram uma perturbação na translação de StAR testicular e nas proteínas do receptor androgênico pelo Western Blot. Por imunohistoquímica, os autores observaram uma diminuição na StAR nas células de Leydig. Além disso houve uma redução significativa nos níveis de LH (hormônio luteinizante), FSH (h. folívulo estimulante), colesterol, pregnenolona e testosterona. Houve uma redução superior a 30% na atividade enzimática do 3beta-HSD e do 17beta-HSD testiculares no grupo tratado.
Observou-se malformações histopatológicas nos testículos e nos tecidos sexuais nos ratos tratados.
Os autores concluiram que o triclosan diminui a síntese de andrógenos com consequente redução na produção de esperma que pode ser mediada redução da produção de LH e FSH, envolvendo o eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal.

O triclosan é um clorofenol usado como preservante e agente anti-bacteriano em vários tipos de formulações cosméticas (desodorantes, dentifrícios, etc...).

Para saber mais:
Kumar V, Chakraborty A, Kural MR, Roy P.
Alteration of testicular steroidogenesis and histopathology of reproductive system in male rats treated with triclosan.
Reprod Toxicol. 2008 Dec 11. (in press)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Parabenos e o CIR: a avaliação "final" mais recente

Saiu o artigo mais recente do CIR (comitê de avaliação da indústria americana de cosméticos) sobre a avaliação de segurança de parabenos.
O artigo está disponível no International Journal of Toxicology em suplemento (Int J Toxicol. 2008;27 Suppl 4:1-82) com o título: "Final amended report on the safety assessment of Methylparaben, Ethylparaben, Propylparaben, Isopropylparaben, Butylparaben, Isobutylparaben, and Benzylparaben as used in cosmetic products."No texto eles admitem que os parabenos penetram o extrato córneo na inversa proporsão do tamanho de sua cadeias, que não há toxicidade aguda e a toxicidade sub-aguda ou crônica é QUASE nenhuma.
Os estudos de genotoxicidade apresentaram PRATICAMENTE nenhuma toxicidade, EMBORA o metilparabeno e o etilparabeno tenham aumentado SIGNIFICATIVAMENTE as aberrações cromossômicas nos estudos conduzidos em células de ovário de hamsters. Eles também admitem que a presença de etil, propil e butilparabeno na dieta produziram proliferação celular no estômago anterior de ratos (efeito ligado ao tamanho da cadeia molecular), mas o isobutil e o butilparabeno não são carcinogênicos quando dados por via oral em ratos.
Há também a admissão, após dizer que não são cancerígenos administrados por via subcutânea, de que em um estudo in vitro houve evidência de toxicidade em baixíssimas doses, tornando o esperma inviável. Logo, no entanto rebatem com a afirmação que em um outro estudo in vivo, 0,1% de metilparabeno e 1,0% de etilparabeno por via oral não causaram toxicidade no esperma de ratos, embora tenham que admitir que o propilparabeno afete a contagem do esperma em todas as concentrações variando de 0,01% até 1,0%´, além do butilparabeno em doses de 1% levar a perda de peso do epidídimo e da vesícula seminal, com perda da motilidade e do número de espermatozóides viáveis em nascituros de ratas expostas a 100mg/dia. Também admitem que em ratas tratadas com injeções subcutâneas de 100 a 200mg/dia houve toxicidade reprodutiva nos filhotes, mas sem deformidades na genitália aparentes.
Segundo os autores o Butilparabeno se liga aos receptores estrogênicos mas com uma obvia afinidade menor que o estradiol. Existe também relativa afinidade dos receptores alfa e beta que aumenta em função do tamanho da cadeia alquil do metil (mais fraca) até o isobutil (mais forte). Nos receptores androgênicos, o propilparabeno demonstrou uma atividade competitiva fraca enquanto o metilparabeno não teve atividade. O ácido parahidroxibenzoico (PHBA), do qual este grupo de substâncias deriva, quando administrado por via subcutânea na dose de 5mg/kg/dia, produziu resposta estrogênica em um estudo uterotrófico com camundongos, mas não em ratos. Quanto ao metilparabeno, os achados foram controversos, porém nos casos positivos sua potência seria 1000 vezes menor que o estradiol e o mesmo valeria para o etil, propil e butilparabeno. Já, para os autores, o isobutilparabeno é uterotrófico por estímulo estrogênico, apesar sua potência ser só 240.000 vezes menor que o estradiol. O benzilparabeno também produziu o mesmo resultado apesar de uma potência ainda menor, de cerca 330.000 vezes menor que o estradiol.
Os autores também admitem a atividade estrogênica dos parabenos e do PHBA em células humanas tumorais de mama in vitro (embora reassegurem que são 4 vezes mais fracas que o estradiol).
Segundo os autores, os parabenos são não irritantes e não sensibilizantes, apesar dos inúmeros casos reportados na literatura e das preocupações dos alergologistas, isto só ocorreria na pele não íntegra. Eles dizem que apesar dos parabenos PENETRAREM o stratum corneum, o próprio metabolismo da pele seria responsável por reduzir a 1/4 esta dose e assim reduzir a quantidade de parabenos absorvidos na forma original.

A conclusão dos "experts" do CIR é que os parabenos são seguros para uso em cosméticos.

Ficou confuso?
Pois é. Muitos estudos citados neste artigo são contraditórios e controversos.
O fato de dizer que uma substância possui ação estrogênica x vezes menor que o estradiol não significa que ela não seja eficaz para provocar uma ação, ou uma interferência, fato observado por exemplo na comparação do estradiol (hormônio natural) com um xenohormônio como o benzilparabeno, que apesar de ser 300.000 vezes mais fraco produz estimulação uterotrófica significativa.
Discordo do fato que parabenos sejam seguros do ponto de vista de sensibilização. A literatura está repleta de artigos e "reports" e os preservantes são uma das categorias mais importantes entre os agentes sensibilizantes em cosmética, juntamente com os perfumes e os corantes e em aumento na população geral.
Além do mais a tal "pele íntegra" é uma falácia. A pele sofre milhões de agressões e microtraumas contínuos onde uma ruptura do efeito barreira não é nada absurdo ou anormal.
Outro detalhe que foi tratado de forma superficial foi a dose diária de parabenos ao qual o indivíduo está exposto, uma vez que o uso de cosméticos não é a única fonte destas susbtâncias. Assim a dose utilizada para comparação com a NOAEL (nível no qual não se observam efeitos adversos - no observed adverse effect level) não é a dose real de parabenos ao qual o sujeito médio está de fato exposto e as margens de segurança não são conservadoras, muito ao contrário.

Menos mal que em outros pontos do globo os grupos de vigilância sejam mais restritivos e bem menos condescendentes, e discordem, ao menos parcialmente, deste ponto de vista, uma vez que não devem defender os interesses das indústrias, mas sim da sociedade.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A importância de estar do lado certo...

Faz dias que queria falar sobre a importância de estar do lado certo... da fronteira.
É isso mesmo. Para cada incidente de guerra de um lado, são 125 do outro.
Coisa para se pensar.
Li agora a pouco no blog do Osame Kinuchi, o SEMCIÊNCIA, que está aí na barra de links, algumas coisas que recomendo. Leiam: " 72 olhos por um olho e 15 dentes por um dente", e leiam também: "Sem olhos em Gaza" (http://comciencias.blogspot.com/).

Não vou discutir méritos das facções. Não acredito que hajam méritos para serem discutidos onde crianças morrem como moscas por conta de discursos e "direitos" ideológicos e políticos absurdos.
Não há mérito em genocídio, em violência, em terrorismo.
Não há mérito na censura. Não há mérito na guerra, não há mérito em holocaustos.
Não há justificativas para bombardear escolas.
Talvez seja coisa de médico ser tendencioso para o lado mais fraco. Talvez seja coisa de mãe. Mas me incomoda esta disparidade de números entre os dois lados do conflito. Me incomoda a resposta dada pelo político, crua, cínica, quando questionado sobre a morte das crianças. É esta insensibilidade a que cria e alimenta ódios. Ódios que devem convir a alguém.
O direito de viver de uma criança, que é universal e inquestionável, deveria ser maior que o direito de existir de um estado político. Porque os estados são feitos de pessoas, para pessoas e não podem prescindir delas.

Sempre me perguntei por que a vida de uns vale mais que a vida de outros. Infelizmente ainda demonstra a importância de você ter nascido do lado certo da fronteira, com a religião certa, com o sobrenome certo.

É uma vergonha para todos os seres humanos.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O fumo de terceira mão

Todo mundo sabe que o hábito de fumar é um fator de risco para uma infinidade de doenças. Muita gente sabe que, mesmo o não fumante que aspira a fumaça do cigarro, também apresenta risco aumentado para várias patologias. É o chamado fumante passivo, ou fumante de segunda mão. Mas pouca gente se dá conta do chamado fumo de "terceira mão", ou seja a persistência no ambiente de toxinas do cigarro, impregnadas em fibras têxteis e nos cabelos, mesmo após 24h.
Um estudo publicado na Pediatrics deste mês (e disponível on-line*) pelo grupo do Dr. Jonathan Winickoff, professor de Pediatria (Harvard Medical School) e diretor assistente do Centro de Vigilância para a Infância e Adolescência do Massachusets General Hospital for Children, é o primeiro a examinar a percepção deste risco na população geral adulta nos EUA e se esta percepção determina proibições de fumar em ambiente doméstico.
A toxicidade de baixas doses de tabaco está bem documentada. São 250 gases, substâncias químicas e metais que incluem substâncias presentes em armas químicas(cianeto de hidrogênio), em canos de escapamento (monóxido de carbono), em fluido para isqueiros (butano), em produtos de limpeza pesada (amônia), em solventes de tinta (tolueno), em pesticidas (arsênico), metais (chumbo, cadmio, cromo) e substâncias radioativas (polônio-210) extremamente carcinógenas. Destas substâncias, onze são carcinógenos do grupo I, ou seja comprovadamente carcinógenos para seres humanos, e para alguns destes compostos, como no caso do Polônio-210, a dose cumulativa é de importância crucial.
As crianças pequenas são muito susceptíveis ao fumo de terceira mão por engatinharem, brincarem e levarem a boca, além de inalarem próximas as fontes e superfícies contaminadas. É importante precisar que estas partículas permanecem no ambiente por muito tempo após o fumo ter cessado.
Como na exposição a baixas doses de chumbo, a exposição a baixas doses de particulados de tabaco tem sido associada a deficits cognitivos e em doses maiores a baixa capacidade de leitura, o que suporta a hipótese que estas substâncias sejam neurotóxicas e que, segundo os pesquisadores, justifiquem a restrição total das mesmas em ambiente frequentado por crianças.
Esta certamente é uma boa razão para considerar a proibição do fumo de cigarros em sua casa. Sem dúvida, para os fumantes, mais uma boa razão para incluir abandonar o hábito de fumar nas resoluções de ano novo.


*Winickoff JP, Friebely J, Tanski SE, Sherrod C, Matt GE, Hovell MF, McMillen RC.
Beliefs about the health effects of "thirdhand" smoke and home smoking bans.
Pediatrics. 2009 Jan;123(1):e74-9.
http://pediatrics.aappublications.org/cgi/reprint/123/1/e74

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Este é meu, mas é seu também...



De uma empresa de telecomunicações, mas vale como mensagem de ano-novo.

A influência dos interferentes hormonais no início da puberdade

Para começar o ano falando de coisas importantes, acaba de sair um artigo de revisão na Current Opinion in Endocrinology Diabetes and Obesity (edição de fevereiro, disponível on-line) sobre a influência dos intereferentes ambientais no início da puberdade.
As autoras, do Departamento de Endocrinologia Pediátrica da New York State University são as Dras. Elka Jacobson-Dickman e Mary M. Lee. Elas, em sua revisão afirmam que estudos epidemiológicos em humanos confirmam a importância dos interferentes hormonais no início da puberdade (já demonstrados em estudos experimentais em animais). Elas também chamam a atenção para as diferenças de comportamento entre os agentes. Chumbo, dioxinas e fitoestrógenos atrasam a puberdade enquanto ftalatos e PCBs (bifenilas policlorinadas) antecipam o desenvolvimento das mamas e a menarca respectivamente.
As autoras recordam também as dificuldades no desenho de estudos sobre estas exposições, pelas difrentes fontes e diferentes compostos aos quais os indivíduos estão expostos e que podem ter ações antagônicas no eixo reprodutivo.
No entanto, elas confirmam que agentes ambientias possuem influência sobre o eixo reprodutivo humano e que o início da puberdade é influenciado por eles.

Me chama a atenção a frequência de pesquisadoras mulheres envolvidas com este tema. Uma grande maioria de quem publica sobre este assunto é de mulheres. Curioso, pois os agentes mais vulneráveis na espécie humana são os meninos.
Talvez por serem mães, talvez...

Para saber mais:

Jacobson-Dickman E, Lee MM.
The influence of endocrine disruptors on pubertal timing.
Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes. 2009 Feb;16(1):25-30.