quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O cheiro da felicidade



As teorias clássicas sobre por que motivo um cheiro nos é agradável, diziam que era parte de um comportamento inato, que somos predispostos para certos cheiros. Porém nos últimos anos têm-se sobressaído uma nova perspectiva que afirma que os cheiros preferenciais são aprendidos. Ou seja, aprendemos a gostar de um cheiro e de desgostar de outros e os vínculos afetivos ligados às experiências que fazemos ao longo de nossas vidas são muito importantes na construção de nossas preferências.
O aprendizado associativo emocional também explica as diferenças entre as preferências individuais por um odor ou outro. Existem preferências baseadas em conceitos culturais, como o "cheiro de casa" que pode variar de uma cultura para outra, além de outras variáveis como a idade, o sexo, e as próprias preferências genéticas (veja o post sobre ferormônios).
As preferências não são estáticas e podem mudar ao longo da vida, em especial em relação àqueles odores que não estão claramente definidos como os que alguém ama ou detesta, estes já mais difíceis de sofrerem mudanças ao longo da vida.
Como se vê, a composição de uma preferência olfativa é múltipla, complexa e dinâmica.
Uma vez fui a um curso de perfumaria e me lembro de uma história que um perfumista francês, professor no curso, contou na ocasião. Ele trabalhava, ainda no início de sua carreira para uma grande empresa multinacional de fragrâncias, e foi contatado por seu (então) chefe que lhe passou a solicitação de um emir beduíno. Ele desejava a fragrância exclusiva de cabras molhadas pela chuva. Ele não entendeu nada. Na cabeça do jovem perfumista ficou remoendo a pergunta de por que cargas d'agua um indivíduo poderia querer um perfume que cheirasse cabras molhadas? Então, numa entrevista posterior, o tal emir lhe disse que na infância, quando eles ainda migravam no deserto, o momento de grande felicidade era quando chovia e as cabras do rebanho se molhavam com a chuva. Era motivo de festa para toda a comunidade, inclusive para ele. Na verdade ele queria o cheiro da felicidade de sua infância.
O Cheiro da Felicidade da Infância... acho que todo mundo tem um. É bastante compreensível que alguém deseje recuperar este cheiro. Qual é o seu cheiro de felicidade?
Pense nos perfumes que você gosta. Entenda porque eles representam isto para você. É uma boa análise e exercício de auto-conhecimento.

PS: eu adoro a família Hesperidata, todos os cítricos... a foto é da Wikipedia.

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