Desde a publicação da Sétima Emenda (Cosméticos) e do REACH, um esforço no sentido de usar métodos alternativos para testes de segurança em animais vem sendo aplicado nos países europeus, onde inclusive datas de proscrição de metodologias "in vivo" foram claramente estabelecidas.
Não é coisa nova. Já desde cerca 20 anos existe uma tentativa de estabelecer um consenso internacional para a aceitação destes métodos alternativos. Porém estes testes ainda não são aceitos pelas agências regulatórias como adequados ou suficientes, sendo somente considerados métodos de pré-avaliação.
Segundo artigo do Dr. Lilienblum¹ , alguns progressos foram feitos no sentido de desenvolverem-se métodos alternativos para predição de efeitos tóxicos localizados e genotoxicidade.
Em outros aspectos como toxicidade sistemica por exposição singular ou plúrima, toxicocinética, sensibilização, carcinogenicidade, toxicidade reprodutiva, infelizmente ainda dependem do desenvolvimento de baterias de testes "in vitro" e "in silico" e sistemas combinados para contornar a complexidade dos sistemas biológicos envolvidos, mesmo porque muitos destes processos ainda não foram completamente esclarecidos, e assim sendo não podendo ser reproduzidos por um modelo.
As Estratégias Integradas de Teste (ITS- que incluem uma combinação da informação e database existente, o uso de categorias químicas, testes in vitro e relação quantitativa entre estrutura química e atividade-QSAR) não foram ainda aceitos pelas autoridades científicas e regulatórias e ainda necessitam de uma completa (e boa) justificativa para seu uso em um determinado cenário, o que requer análise de experientes toxicologistas e disponibilidade de conhecimento específico sobre o assunto.
Isto faz com que as datas propostas para banimento dos testes convencionais se tornem fora da realidade.
Assim sendo, do ponto de vista da segurança, inclusive no que diz respeito à biota como um todo (lembrando que uma substância química não se restringe exclusivamente a uma espécie, mas interessa todo um meio-ambiente), é pouco provável que se possa prescindir a curto ou médio prazo de testes "in vivo" em especial no que diz respeito aos valores mínimos estabelecidos para efeitos adversos.
É praticamente consenso entre os toxicologistas, inclusive entre os presentes ao Congresso de Toxicologia de Seattle em março deste ano, que seria mais sábio, a curto e médio prazo, direcionar os esforços no sentido de refinar e reduzir os testes "in vivo", coibindo todos os excessos. Estaríamos realmente economizando vidas (animais, e seres humanos são animais, viram?) em todos os pontos da cadeia.
1) Lilienblum W, Dekant W, Foth H, Gebel T, Hengstler JG, Kahl R, Kramer PJ, Schweinfurth H, Wollin KM. Alternative methods to safety studies in experimental animals: role in the risk assessment of chemicals under the new European Chemicals Legislation (REACH).Arch Toxicol. 2008 Apr;82(4):211-36.
Para saber mais:
European Centre for the Validation of Alternative Methods: http://ecvam.jrc.it/
Interagency Coordinating Committee on Validation of Alternative Methods: http://iccvam.niehs.nih.gov/
NA. Ah, antes que me chamem de maluca mais uma vez por dizer que todos os fármacos e cosméticos presentes no mercado foram testados em animais em alguma fase, e que não são só as pessoas que devem ser levadas em consideração, mas toda forma de vida que será exposta a substância química que se estuda, quero esclarecer que ficaria bem feliz de poder dizer que uma coisa é segura sem ter que recorrer a qualquer método cruento. Acho que isto se chama bom senso.
No entanto recordo que para encontramos soluções verdadeiras é necessário aceitar que o problema existe de fato e que não fazer de conta que a solução está batendo à porta. Mesmo porque diariamente somos apresentados a novos agentes químicos e para muitos deles não temos a mais remota idéia de seu potencial de risco.
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