sábado, 5 de abril de 2008

Saudades do Pepê


Passou o tempo, para ser precisa 17 anos daquele dia fatídico em que você morreu. Me lembro de estar no refeitório do hospital, no fim do plantão, quando ouvi a notícia no Jornal Nacional. Saí de lá achando que não era verdade, que só podia ser um engano e só me dei conta quando cheguei em casa e o telefone não parou de tocar.

Era estranho imaginar o mundo sem você. De verdade, o Rio de Janeiro nunca mais foi a mesma coisa depois que você morreu. Já no dia da missa, parecia um cenário vazio de filme, os rostos inchados e a sensação de que algo tinha acabado para sempre. Pelo menos foi assim que me pareceu, pois junto com você ficou uma parte feliz da minha vida, amigos, histórias, sonhos. Foi um marco de grandes mudanças.

Você, que era o "cara do poster" dropando Pipeline em uma imensa onda azul, grudado no armário da minha adolescência (no interior de São Paulo); você, que acabou se tornando meu amigo de verdade; já não daria mais aquele sorriso moleque, não tocaria mais violão para a gente ouvir, nem me falaria mais da vida com aquele jeito seguro de quem sabe ao que veio.

Aprendi a voar, e voava "olhando para frente". Você sempre dizia "olhe o horizonte, corra olhando pra frente" e era o que eu fazia (talvez seja este o segredo para nunca ter ficado na rampa, apesar de voar no limite da minha asa). Agradeço por tudo o que você me ensinou naqueles anos, porque mesmo sem asas, ainda hoje me lembro dos seus conselhos que me servem no meu dia-a-dia, em ares bem mais pesados, tufões e rotores da vida. Eu continuo a correr olhando para a frente nestes meus vôos telúricos.

Muita gente pode pensar, o que podíamos ter em comum, nas nossas histórias de vida. Fazíamos coisas tão diferentes, em ambientes tão distintos. Eu lá, a "carola paulista" na Medicina, e você o atleta, o surfista que se jogava nas ondas de mar e de ar. O que muita gente não sabe é que atrás daquele "moleque" espontâneo tinha um lado perfeccionista, batalhador e extremamente disciplinado. A determinação de um campeão.

Tive o privilégio de ter compartilhado do seu mundo, do seu tempo e da sua amizade.

Você é inesquecível e continua voando junto com quem te conheceu.

Um beijo carinhoso, Pepê, aonde quer que você possa estar (ou ser).
Sinto, melhor, sentimos todos muitas saudades.
(foto: Sandra Goraieb, Porciúncula, 1986)

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