domingo, 17 de agosto de 2008

Varre, varre, varre vassourinha...

(Este é um tópico importante para melhor entender intoxicações e como o nosso corpo reage a elas.)

O dano potencial da exposição a agentes tóxicos depende de vários fatores.
Entre estes é necessário considerar se a exposição é única, múltipla ou contínua, de uma única fonte ou de múltiplas fontes.
Em alguns casos torna-se difícil estimar o grau de exposição quando estão implicados contaminantes difusos ou agentes químicos que possam persistir ou acumular-se no ambiente.
Gostaria de deixar claro que pessoas expostas aos agentes de risco em baixas doses por longos períodos de tempo na maioria dos casos não apresentarão sintomas de intoxicação aguda. As pessoas apresentarão, em sua maioria sintomas genéricos, não bem definidos, típicos de patologias crônicas ou mesmo sintomas subclínicos.
Afirmar que um determinado agente tóxico não tenha causado uma doença reconhecível no homem não significa que ele não exerça um efeito fisiológico. Ou seja, o fato de não acontecer uma doença imediatamente não exclui efeitos indesejáveis destas substâncias, mesmo inaparentes.
Os agentes potencialmente tóxicos são indutores do sistema microssomal enzimático no fígado. Este sistema exerce um papel crítico para o metabolismo de drogas e venenos provenientes do meio externo.
A transformação de substâncias químicas orgânicas ocorre através de dois sistemas enzimáticos: as reações de fase I e fase II. As enzimas envolvidas nestes processos são conhecidas como enzimas de conjugação. Em todos os mamíferos a desintoxicação de poluentes orgânicos ocorre predominantemente no fígado, pois é ali, entre todos os órgãos do corpo, que estas enzimas existem em maior concentração.
As reações de fase I são processos metabólicos que fracionam moléculas complexas em moléculas mais simples. Isto se chama catabolismo. Estas reações também adicionam à molecula um grupo funcional com uma carga elétrica (polarização). Isto se dá através de uma adição enzimática controlada de oxigênio (oxidação), criando assim um intermediário mais reativo. As principais enzimas envolvidas nesta fase de catalização são as mono-oxigenases, em especial as da flavoproteina e as do citocromo P450 (também conhecido como sistema de oxigenase de função mista, MFO). Após a oxidação pelo sistema MFO, as reações de fase II conjugam o intermediário com moléculas hidrossolúveis como a glutadiona, através de reações catabólicas ou pela síntese mediada por enzimas de moléculas complexas denominada biossíntese.
Os produtos da reação virão eliminados na bile ou na urina.
Quando a desintoxicação não ocorre em modo suficiente resultará em um efeito tóxico que será percebido como toxicidade aguda, genotoxicidade (dano ao material genético) ou intoxicação crônica com efeitos prolongados no organismo.
Bem, todos estes nomes complicados servem para dizer que dentro de você existe um sistema de “tratamento químico” destas substâncias tóxicas e que se ele funcionar de maneira adequada muitas substâncias tóxicas poderão ser elaboradas e eliminadas do seu corpo. É importante, no entanto, saber que este mecanismo não é ilimitado e infalível e que certas substâncias são sempre tóxicas para o nosso organismo.
Outra coisa importante é ter em mente que a atividade do sistema enzimático microssomal é mínima ao nascimento e no início da vida, devido a sua imaturidade e que aumenta progressivamente com a vida adulta.
Supõe-se que o desenvolvimento da capacidade enzimática seja um reflexo da exposição do indivíduo aos agentes químicos ambientais. A atividade do sistema, uma vez induzida por um agente, pode ser válida também para outros. Então, quando mais de uma substância é introduzida no organismo simultaneamente, a disposição metabólica de uma das substâncias pode ser alterada pela presença ou características indutoras da outra. A este ajuste se dá o nome de sistema adaptativo hepático.
Normalmente os sistemas corporais são programados para atingir um estado de equilíbrio chamado homeostase. Muitos sistemas em nosso corpo funcionam continuamente, sem nehuma pausa, somente para manter esta homeostase sem algum dano.
Mas para o correto funcionamento de alguns destes sistemas, ou seja, os que se utilizam de síntese protéica, faz-se necessária uma maior disponibilidade de precursores destas proteínas. Isso implicaria em um relativo “custo fisiológico”, pois haveria um “desvio” destes precursores de suas normais utilizações. Então, para cada reação adaptativa haveria um custo para os demais processos. Quando a ativação do sistema tem origem no meio externo, como no caso do sistema microssomal hepático, o contínuo e longo comprometimento com uma série de estímulos químicos poderia levar a um “custo fisiológico” que poderia se verificar deletério ao organismo.
Em nenhum outro tempo os seres humanos estiveram expostos a uma miríade tão ampla de substâncias químicas e, de fato, os efeitos de muitas delas ainda não estão perfeitamente claros no ser humano.

(continua...)

Este texto é protegido por copyright e é parte do livro "Mamãe passou açúcar em mim" (Sandra Goraieb, 2006).

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