segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Falando sério sobre testes em animais

Desde o início da aplicação do protocolo REACH¹ na União Européia, a discussão sobre testes em animais ganhou uma nova força. É evidente que a segurança dos produtos que são colocados no mercado é necessária e uma questão que extrapola o luxo e se torna um problema de saúde pública e ambiental. No entanto, o uso indiscriminado e fútil de testes em animais é absolutamente antiético e desnecessário.
Cada nova molécula que vai para o mercado para uso comercial deve ser testada de forma a garantir não somente a melhor performance como também a sua segurança. Uma nova substância necessita de garantias de uso e perfil de toxicidade bem definidos. Preferivelmente, e sempre que possível, testes espécie específicos.
Apesar do banimento de testes em animais para produtos cosméticos que já deveria ter sido colocado em prática no território europeu, é consenso que ainda não há um método alternativo que garanta estas prerrogativas de forma efetiva na sua totalidade. Iniciativas sérias como o FRAME² (Fund for the Replacement of Animal Testing in Medical Experiments), que incentivam a pesquisa e desenvolvimento de novas metodologias e cujo objetivo final é a substituição de testes em animais são concordes em afirmar que testes são necessários, pois colocar no mercado substâncias cujos efeitos são desconhecidos pode ocasionar em grave dano para pessoas e para o ambiente como um todo.
Enquanto este objetivo não for possível o correto seria reduzir os testes evitando a sua redundância, aplicar desenhos experimentais adequados para cada substância e minimizar o sofrimento dos animais necessários através de um comportamento ético e respeitoso. Isto é conhecido como os três Rs de Russel e Burch: “Reduce, Refine, Replace (reduzir, refinar e substituir)”.
No Brasil, em 2008, foi aprovada a primeira lei (11794/08) que regulamenta o uso de animais de experimentação³, mas ainda com pouca ênfase sobre a redução e a substituição dos testes, embora seja um elemento orientador importante no que diz respeito ao refinamento dos testes e da ética.
No entanto, muitas empresas usam a boa fé do consumidor através do uso do claim “não testado em animais”. Quero deixar bem claro que isto é um conceito míope e irresponsável além de irreal. O produto então estaria sendo testado no próprio consumidor final, que é um animal. Seres humanos são animais. E não fica por aí, pois parte do produto vai para o ralo e acaba no ambiente, colocando outras espécies em contato com o mesmo, cujos efeitos, em teoria, não foram esclarecidos. Em poucas palavras, você estaria expondo toda uma cadeia a uma substância cujos efeitos são desconhecidos.
Muitas moléculas inadequadamente testadas já causaram danos severos e seus efeitos persistentes ainda são um problema não resolvido em muitos ecossistemas.
Para resumir, quem ama de verdade, testa.

Para saber mais:
1. http://ec.europa.eu/environment/chemicals/reach/reach_intro.htm
2.http://www.frame.org.uk/index.php

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