segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Moda sustentável

Apesar de ultimamente ter reduzido o ritmo, tenho visto muito nas mídias a questão da "moda sustentável". Talvez por conta das semanas de moda das capitais. Mas, refletindo com um espírito crítico, também vejo que não há um consenso sobre o que isto realmente signifique. Então pensei em dissecar um pouquinho o termo e assim obter elementos objetivos para avaliar o que isto seja realmente.

Para começar, moda é uma palavra referenciada à estatística, uma medida de dispersão, ou seja, a moda é o valor em uma amostra que detém o maior número de incidências, o valor mais frequente, ou seja, se em um grupo qualquer de 100 indivíduos, a maioria deles veste cueca verde de bolinhas roxas na cabeça, isto é moda. Então, de conseguinte, moda é o que você observa com maior frequência na população e não exatamente o que nos dizem os estilistas do momento.
Vamos então imaginar que cada estilista quando propõe cuecas verdes como boinas, a coisa ainda não é moda. Na verdade é somente uma aspiração a que aquilo que ele propõe se torne uma coisa usada por todos, consequentemente moda. Mas se você der uma circulada em pontos da cidade de grande afluência e observar as pessoas registrando o modo como elas se vestem, as coisas mais comuns serão moda.
Moda, portanto, não significa bom gosto.
Pensando assim, a moda verdadeira é aquela básica, de todos os dias, aquela que você, eu e todas as pessoas usamos. O que diferencia a moda é a população observada. Digamos que se você for um médico no centro cirúrgico, a moda é o lindíssimo pijamão com o avental cirúrgico como complemento, devidamente assessoriado por gorros, máscaras e luvas, mas que o outfit descrito, se aplicado a população no metrô da estação Tietê simplesmente seria igual ao ET em desfile.
Assim a função, o horário, o ambiente e o contexto, influenciam o que seria moda. Logo, você é quem faz a sua moda, de acordo com o seu perfil. Basta escolher a que população ou tribo, você pertence.

Sustentável é outro termo aparentemente singelo mas que esconde uma infinidade de armadilhas. Assim, termo muito adequado para exploração no marketing: algo complexo que ninguém saber exatamente o que é e que pode ser usado de tantas formas até prova em contrário.
Sustentável, instintivamente é algo que se mantém em pé, que se mantém ao longo do tempo.
Uma casa pode ser sustentável porque está em pé e não vai cair, pelo menos até que a montanha desabe sobre ela, o rio a invada ou um terremoto devastante ou outra catástrofe a coloquem no chão. Mas isto tem algo a ver com o discurso? Não. A mesma casa pode ter um consumo energético imenso. Então, sustentabilidade é uma palavra sem significado.
Se você considerar que sustentável é algo que não interfere com o ambiente, então este é um absurdo ainda maior, pois TUDO o que fazemos exige um custo energético e ambiental. É importante ter isto claro em mente.
Assim o perfeito não existe e sabendo disso vamos ao ponto que realmente vale:
a relação custo x benefício.
A moda sustentável, assim como qualquer outra opção de consumo deve ser pautada por uma séria avaliação do custo x benefício.
Sustentável é algo que vai diminuir o seu custo para que esta coisa exista.
Entenda-se custo, não como o preço final que você paga por um bem ou produto, mas o quanto este produto usou de recursos físicos, químicos e biológicos para existir e também para desaparecer.

Colocando a coisa em termos práticos:

Fibras naturais x fibras sintéticas: ambas podem ser uma escolha adequada, de acordo com o uso que você faz do produto. Importante é ter em mente que nem sempre um produto "natural" é o menos agressivo ou o que representa uma opção cujo custo ambiental seja menor.

Preço baixo x caro: nem sempre o preço espelha a qualidade do produto. Procure por qualidade. É melhor comprar uma camiseta básica, ainda que mais cara, mas que durará 10 anos do que uma mais barata que durará 10 meses.

Fashion x clássico: neste caso o clássico dá um banho, pois representa uma escolha duradoura, que com pequenas variações poderá se apresentar diferentemente. Isto vale para todas as instâncias, ambientes e estilos. Optar por peças de bom corte, de bom tecido, de qualidade.

Muito x pouco lixo: é evidente que um produto que deixe menos resíduos após sua vida útil é melhor que outro que não possua estas características. Cabe lembrar também que quanto menos etapas contaminantes no período de fabricação deste ítem, melhor o ítem.

Lembre-se de perguntar-se se o ítem que você compra é mesmo necessário. Muitas vezes você vai descobrir que não é. Questione se o produto vai trazer algum real benefício para a sua vida, se vai melhorar a sua existência e a sua experiência de viver, se traz benefícios reais para a sua saúde, para todos os que lhe rodeiam.
Nada nem ninguém é perfeito ou absoluto, mas se exercitássemos um pouquinho mais nossa crítica diante de cada experiência de compra, sem dúvida reduziríamos significativamente os excessos.
Eu imagino que deslizes consumistas não são apanágio só de alguns na sociedade construída sobre um mecanismo onde a economia e a ecologia parecem não coexistir na mesma casa, onde embora da mesma família, parecem irmãos discutindo pela cor da bola que papai trouxe. Urge criar uma estrutura econômica que favoreça esta cultura da conservação, onde novas funções e novos serviços possam ser criados de fato levando em conta os valores e os custos globais de cada coisa. Precisamos reeducar nossos impulsos "comprísticos", pois sejamos honestos, eles ocorrem.

Ah, moda sustentável não é desfilar equilibrando-se em saltos em passarelas de painéis solares. Moda sustentável é ser equilibrado, escolher produtos duráveis e de qualidade, na justa quantidade para suprir suas necessidades.
Lembrem-se, quem faz a moda são vocês.

2 comentários:

MaBulizani disse...

Concordo plenamente,uma vez liuma cronicaque dizia que os estilistas fazem roupas tão esquisitas e querem modelos tão magras porque não se conformam com a beleza feminina e a condição de ter nascido num corpo de homem.Porisso como numa conspiração fazem a moda para deixar-nos as simples mortais infelizes por nunca atingirem o ideal louco que eles impõem,e as coitadas anorexas modelos doentes sem nunca poder saborear um chocolate sem culpa.rsssss E da-lhe consumo,pois num verão e saia rasgada no outro é longa,no outro é micro mostrando tudo ,meu Deus onde vamos parar!um abraço adorei seu blog

thais disse...

Sandra, excelente post!!! clap clap clap!

beijo