Ha cerca duas décadas conheci o Prof. Dr. José Luis.
Por alguns anos de minha vida profissional trabalhei no Departamento de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da EPM-UNIFESP e foi um privilégio para mim ter partilhado de seu conhecimento.
De fato, ser médico não é nem fácil, nem simples. Nem mesmo na Avenida Paulista.
Mas como até imbecis passam por estadistas quando estão calados, transcrevo a carta do Prof José Luis sobre a infeliz frase do Sr. Presidente:
(do site da Associação Médica Brasileira, os grifos são meus)
"Carta ao presidente Lula: Incontinência verbal
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em mais um de seus rompantes habituais de incontinência verbal, diz ter encontrado os culpados pelo caótico sistema de saúde nacional: os médicos. Segundo reportagem veiculada na sexta-feira (26 de março) em diversos jornais brasileiros, o presidente reclamou "que os médicos não aceitam ou cobram caro para trabalhar no interior e periferias e que é muito fácil ser médico na avenida Paulista".
Lula também criticou o Conselho Federal de Medicina, pedindo reconhecimento aos diplomas dos médicos formados em Cuba. Ainda em tom jocoso, criticou o médico responsável pela amputação do seu dedo mínimo da mão esquerda. Sua ira voltou-se também aos contrários à cobrança de novo tributo para aumentar os recursos ao setor de saúde.
O que o presidente finge não saber é que o médico sozinho no interior ou em periferias é incapaz de promover saúde. Ele precisa de apoio para exercer a sua profissão, como laboratórios, equipamentos para exames, hospitais, enfim tudo o que não é prioridade ou é claramente insuficiente em seu Governo.
Lula também finge não saber que ninguém é contra o médico cubano: exige-se apenas que ele, como qualquer outro, se submeta ao exame de avaliação exigido para formados no exterior.
Quanto à CPMF, governar impondo novos impostos ao já fatigado povo brasileiro, Sr. Lula, é tão vulgar quanto dizer que é "fácil ser médico na avenida".
Sr. Lula, a Associação Médica Brasileira, em nome dos mais de 350 mil médicos brasileiros, sente-se ultrajada com suas declarações, visto inverídicas, por considerar que elas não condizem com cargo que V. Sa ocupa e por atingir a dignidade e honradez daqueles que, diariamente em hospitais ou consultórios, muitas vezes em condições precárias, lutam por manter a saúde do povo brasileiro.
Presidente Lula, o Sr. deve um pedido de desculpas à classe médica brasileira.
José Luiz Gomes do Amaral
Presidente da Associação Médica Brasileira"
Consolemo-nos, professor. Parece que os Magistrados também estão esperando retratação de outra recente verborréia onde afirmava que políticos estão acima da lei.
Ao menos a culpa da catastrófica situação da saúde no país não é dos doentes, o que já é um significativo progresso.
4 comentários:
Não concordo com o que disse o Lula, mas também não concordo que os médicos fazem de tudo pela saúde do povo brasileiro. Isso é uma grande inverdade!
Noventa por cento da classe médica no Brasil está preocupada em ganhar dinheiro apenas: isto é fato!
Rosana, nem sempre tenho tido boas experiências em relação ao atendimento médico atualmente disponível para a população em geral (incluindo para os médicos como eu, pois médicos são pessoas, embora a maioria não saiba disso) mas não justifica a agressão inútil e fútil da parte de uma autoridade. As palavras são de uma superficialidade impressionante. Precisa ter claro que quem as diz não é um qualquer, mas o senhor Presidente da República.
Sabe, é bem triste ler isto, após ter passado boa parte da minha vida fazendo medicina. Muitas vezes em situações de precariedade total, onde a única cara a ser dada para o tapa era a sua. Mais triste é ver que tem gente que acha que ele tem razão e que os males da saúde pública são culpa exclusivamente dos médicos e não do absurdo abandono e total desinteresse de quem deveria garantí-la constitucionalmente.
Só para dizer que os restantes "dez por cento" pela sua conta ainda esperam as desculpas, embora sinceramente eu já tenha perdido as esperanças de ouví-las...
Me faz supor que a culpa dos desmoronamentos e das mortes no Rio seja dos "pedreiros" que construiram as casas (e dos médicos, claro).
Desculpe o desabafo, mas não dá para ficar calada.
Estamos em uma democracia e cada um tem o direito de se expressar sobre qualquer tema. Respeito a opnião do Sr. José Luis.
Entretanto, ultraje é um médico se formar em uma universidade pública (seja estadual ou federal) e se recuse a atender os pedreiros, as diaristas, os carroceiros e os brasileiros pobres em geral, que em sua maioria não tem como arcar as caríssimas consultas. Consultas estas que já estão pagas por meio dos impostos que custearam seus cursos!
Um grande abraço
Moisés, concordo com você. Mas não é só os médicos formados pelas escolas públicas. Acho que todos deveríamos ter ao menos a saúde tutelada, independente de quem você seja, qual seja sua conta bancária, ou que função você exerça. Não é questão de demagogia, é uma questão de assistência a uma necessidade básica do cidadão e que confere dignidade.
Só que, como você pode ver, as autoridades vão aos hospitais da Paulista, não é? Triste...
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