Reproduzo abaixo artigo do NYT sobre produtos orgânicos e ditos naturais.
É importante saber porém que já se acumulam artigos na literatura médica sobre o efeito de parabenos em seres humanos, e não somente, como relata o texto, em roedores. Também é importante saber que o FDA, na figura do Dr. Bailey, já relatou por inúmeras vezes a presença de dioxanas em produtos infantis, inclusive em meados deste ano. O FDA não regulamenta cosméticos com exceção daqueles que venham a apresentar queixas dos consumidores. A indústria americana é auto-reguladora o que dá margem a algumas aberrações.
Outra coisa válida é notar que não existe ingrediente 100% seguro, mesmo agentes hipoalergênicos podem ser sensibilizantes em certos indivíduos e que o rótulo natural ou orgânico não significa nada em termos de segurança (você pode ter venenos naturais e orgânicos).
Boa leitura!
Produtos orgânicos não necessariamente tornam a pele mais saudável
(New York Times)
Natasha Singer
Flavia Kawaja, designer de interiores em Manhattan, não faz uma visita ao departamento de beleza do Whole Foods Market com uma lista de compras, mas com uma lista mental dos ingredientes sintéticos a evitar.
Kawaja não usa antiperspirantes feitos com derivados de alumínio, em caso da lenda urbana de poderem causar doenças como Alzheimer ser verdade. Ela também evita produtos para pele com parabenos, agentes antibacterianos comuns usados como conservantes em alguns cosméticos, alimentos e drogas.
Apesar de não ter havido ensaios clínicos rigorosos em grande escala para demonstrar que os parabenos em cosméticos representam um risco aos consumidores, alguns estudos mostraram que a exposição a parabenos pode causar mudanças reprodutivas em roedores de laboratório.
Ao escolher cosméticos vendidos como naturais ou orgânicos, Kawaja toma extremo cuidado. Mesmo assim, admite que não tem certeza se sua escolha cuidadosa de xampus e protetores solares naturais se traduz em benefícios para a saúde.
“Não assumo que por ser orgânico automaticamente quer dizer que é bom para a saúde”, diz ela. “Digo, se você fritar uma batata orgânica, ainda é uma batata frita.”
Conhecedores de orgânicos há muito lêem os rótulos para eliminar produtos fabricados com pesticidas ou que contêm cores ou sabores sintéticos e conservantes. Agora, após os sustos de saúde recente com ração animal e dentifrícios contaminados, alguns peritos de beleza estão procurando os cosméticos livres de substâncias químicas sintéticas, na crença que produtos feitos sem ingredientes industriais como petroquímicos devem ser melhores para a saúde.
Esses novos consumidores cuidadosos estão alimentando uma expansão dos produtos de cuidado pessoal chamados de naturais e orgânicos. Os cosméticos naturais são vendidos por conterem vegetais ou minerais; os orgânicos dizem que são feitos com plantas cultivadas sem pesticidas.
Durante os 12 meses anteriores ao dia 9 de setembro, os americanos gastaram US$ 150 milhões (em torno de R$ 300 milhões) nas três maiores marcas naturais de higiene pessoal do mercado, incluindo Burt’s Bees, Jason Natural Cosmetics e Tom’s of Maine, um aumento de US$ 51 milhões sobre o ano anterior, de acordo com uma firma de pesquisa de mercado, Information Resources Inc. Enquanto isso, a venda de itens orgânicos de cuidado pessoal alcançou US$ 350 milhões (aproximadamente R$ 700 milhões) no ano passado, um aumento de US$ 68 milhões sobre 2005, de acordo com dados dos fabricantes compilados pela Organic Trade Association.
“Estamos vendo uma consciência maior que o que se coloca no seu corpo é tão importante quanto o que vai dentro do seu corpo”, disse Jeremiah McElwee, coordenador responsável pelo departamento de higiene pessoal da Whole Foods, o que mais cresce da empresa. “A saúde é o maior ímpeto para comprar produtos naturais ou orgânicos para o corpo.”
Seria lógico imaginar que ingredientes comestíveis comuns como azeitonas ou soja seriam naturalmente mais saudáveis para a pele e para o corpo do que compostos industriais de várias sílabas, difíceis de se pronunciar, como o conservante metilcloroisotiazolinona. Entretanto, representantes do governo e da indústria de beleza, assim como ativistas ambientais, admitem que não há provas científicas para apoiar a noção que cosméticos baseados em plantas são mais seguros, saudáveis ou mais eficazes para as pessoas.
“Os consumidores não devem necessariamente assumir que um ingrediente ‘orgânico’ ou ‘natural’ possui maior segurança inerente do que outra versão quimicamente idêntica do mesmo ingrediente”, escreveu Linda M. Katz, diretora do Escritório de Cosméticos e Cores do Departamento de Alimentos e Drogas (FDA), em mensagem eletrônica. “De fato, ingredientes ‘naturais’ podem ser mais difíceis de se preservar contra a contaminação microbiana do que materiais sintéticos.”
A confusão sobre a “veracidade” do mercado de artigos de higiene pessoal natural vem da falta de padrões nacionais.
O FDA, que regula os cosméticos, nunca impôs padrões de definição para termos de venda como ‘natural’ ou ‘orgânico’ quando se aplicam a produtos de beleza, disse Katz. Então, os fabricantes são livres para usar tais termos em tudo, desde um xampu sintético com um derivado de uma planta até um pó facial sem produtos sintéticos formulado apenas com minerais.
COSMÉTICOS NATURAIS
O departamento requer que os fabricantes assegurem que os cosméticos sejam seguros para o uso recomendado. No entanto, deixa por conta dos fabricantes decidir quais testes de segurança e eficácia fazer sobre os ingredientes e produtos acabados.
John Bailey, vice-presidente executivo de ciência da Associação de Cosméticos, Higiene Pessoal e Fragrância, em Washington, disse que os cosméticos são seguros, quer suas fórmulas contenham produtos químicos ou plantas. “No nível mais fundamental, mantêm os mesmos padrões legais e de fiscalização”, disse Bailey, que tem PhD em química.
No entanto, Jane Houlihan, vice-presidente de pesquisa do Grupo de Trabalho Ambiental, um grupo sem fins lucrativos em Washington, disse que a falta de padrões federais é responsável pela confusão do consumidor quanto as vantagens dos produtos naturais, se são tangíveis ou são simplesmente uma estratégia de marketing para cabeças verdes.
“Mesmo que um produto de beleza diga ser puramente da terra, você precisa ler a lista de ingredientes”, disse Houlihan.
Segundo Houlihan, o crescimento do interesse do consumidor em produtos naturais está levando muitos fabricantes a incluírem plantas exóticas em suas fórmulas que não têm um histórico estabelecido na indústria. Por exemplo, disse ela, seu grupo não encontrou dados publicados de segurança para ingredientes mais novos nos cosméticos como o óleo de madeira da Índia Ocidental e extrato de flor de peônia branca. “Só porque um ingrediente vem de uma planta isso não quer dizer que é seguro para uso em um cosmético”, disse Houlihan. “Tabaco e urtiga são exemplos de plantas que podem ser nocivas.”
De fato, alguns dermatologistas disseram que até mesmo ingredientes naturais que parecem benignos podem causar alergias. Por exemplo, David A. Kiken, residente de dermatologia da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, disse que tinha visto irritação de pele causada por cosméticos com óleo de cedro australiano, camomila e chá verde.
“Apesar da expressão ‘extratos botânicos naturais’ dar a impressão de ter propriedades benéficas e benignas, essas substâncias podem causar reações adversas em indivíduos”, escreveu Kiken em um artigo publicado no American Journal of Contact Dermatitis.
Na ausência de padrões do FDA, dezenas de empresas e lojas estão usando palavras como botânico, natural, vegetal, puro e orgânico para vender seus produtos, cada um com sua própria definição.
Por exemplo, a www.sephora.com distingue entre produtos botânicos que usam alguns ingredientes vegetais, marcas naturais que não têm conservantes químicos, cores e fragrâncias, e marcas orgânicas que empregam alguns ingredientes vegetais cultivados sem pesticidas.
Outras marcas se dizem orgânicas para transmitir o máximo da integridade. Mesmo assim, as definições variam. Algumas empresas de beleza simplesmente empregam orgânico em seus nomes. Outras promovem certos ingredientes que foram aprovados por empresas privadas que inspecionam alimentos orgânicos.
Algumas marcas -inclusive Origins e Nature’s Gate- até receberam certificação para alguns produtos pelo Programa Nacional Orgânico, divisão do Departamento de Agricultura cujo logotipo aparece em produtos alimentares orgânicos certificados.
Os cosméticos podem usar tais selos se contiverem ao menos 95% de ingredientes orgânicos certificados, ou seja, produtos agrícolas feitos de animais ou plantas cultivados e processados sem fertilizantes químicos, pesticidas, hormônios de crescimento e antibióticos.
As pessoas, entretanto, não devem interpretar nem o selo orgânico do Usda - www.ams.usda.gov/nop/FactSheets/Backgrounder.html- nos cosméticos como prova de benefícios para a saúde ou eficácia, disse Joan Shaffer, porta-voz do departamento. Os agentes certificadores do governo simplesmente fiscalizam a forma como esses ingredientes naturais são cultivados e processados, assim como fariam para uma jarra de extrato de tomate, disse ela.
“O Programa Orgânico Nacional é um programa de marketing, não de segurança”, disse Shaffer, comparando o selo orgânico do departamento a seu sistema de classificação de carne bovina. “O filé pode ser de primeira, mas isso não quer dizer que é seguro ou nutritivo”.
Tradução: Deborah Weinberg
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